
Entrada em bolsa da Shein adiada para o segundo semestre de 2025 após mudança na política comercial dos EUA
Os planos da Shein para se cotar na bolsa de valores do Reino Unido deverão ser adiados para o segundo semestre deste ano, na sequência da decisão da administração de Donald Trump de eliminar as isenções fiscais aplicadas a pequenas remessas de importação nos Estados Unidos. A medida, que coloca em causa um dos principais mecanismos que permitiam à retalhista de fast-fashion manter os seus preços baixos, poderá ter um impacto significativo na rentabilidade da empresa. A informação foi avançada pelo Financial Times na sexta-feira, citando fontes próximas do processo.
A Shein planeava abrir o seu capital na bolsa de Londres ainda no primeiro semestre de 2025, desde que obtivesse a aprovação dos reguladores britânicos e chineses, como a Reuters já tinha noticiado no mês passado. No entanto, o cenário alterou-se nos últimos dias, após o anúncio de Trump de que iria eliminar a chamada isenção “de minimis”, uma regra que permite a importação de remessas de valor inferior a 800 dólares sem pagamento de direitos aduaneiros. Esta isenção tem sido amplamente utilizada por plataformas como a Shein e a Temu, que dependem deste mecanismo para oferecer preços altamente competitivos no mercado norte-americano, atualmente o maior para a Shein.
A retalhista chinesa já havia informado os investidores de que a entrada em bolsa poderia ocorrer durante a Páscoa deste ano, segundo fontes citadas pelo Financial Times. No entanto, o impacto da nova política comercial dos EUA obrigou a Shein a reconsiderar a sua estratégia, adiando os planos para mais tarde. A empresa não respondeu de imediato a um pedido de comentário feito pela Reuters.
A decisão de Trump de acabar com a isenção “de minimis” insere-se numa política mais ampla de endurecimento das tarifas sobre produtos chineses, com a aplicação de uma tarifa adicional de 10% sobre bens importados da China. O antigo e atual presidente norte-americano classificou esta medida como uma “salva de abertura” num novo confronto comercial entre as duas maiores economias do mundo.
A importância da isenção “de minimis” para o modelo de negócios da Shein e da Temu é evidente nos números apresentados pela Comissão do Congresso dos Estados Unidos para a China. Num relatório de 2023, o órgão legislativo indicou que ambas as empresas eram responsáveis, em conjunto, por mais de 30% de todas as encomendas enviadas diariamente para os EUA ao abrigo desta cláusula. Com a eliminação da isenção, os produtos da Shein estarão sujeitos a taxas alfandegárias mais elevadas, o que poderá levar a aumentos de preços e a uma perda de competitividade no mercado norte-americano.
Além do revés provocado pelas novas tarifas, a Shein também enfrenta desafios na sua avaliação de mercado. Na semana passada, a Reuters avançou que a empresa chinesa deverá reduzir a sua avaliação para cerca de 50 mil milhões de dólares numa potencial entrada em bolsa. Este valor representa uma descida de quase um quarto face aos 66 mil milhões de dólares obtidos na última ronda de angariação de fundos em 2023. A desvalorização reflete as dificuldades acrescidas que a empresa enfrenta num contexto de crescente escrutínio regulatório e de pressões comerciais.
A Shein tem procurado diversificar as suas operações para minimizar a dependência dos Estados Unidos e reduzir os riscos associados às tensões comerciais entre Washington e Pequim. Nos últimos anos, a empresa expandiu as suas operações na Europa e tem investido na produção fora da China, incluindo no Brasil. No entanto, o impacto da eliminação da isenção “de minimis” nos seus resultados financeiros poderá obrigar a Shein a reavaliar a sua estratégia global, num momento em que enfrenta uma crescente concorrência e desafios regulatórios em vários mercados.