Empresas estrangeiras querem voltar à Rússia, mas terão ainda lugar? Mercado mudou e pode não haver espaço para todos

A recente iniciativa de Washington para acelerar o fim do conflito na Ucrânia gerou especulações sobre o possível retorno de marcas ocidentais ao mercado russo. No entanto, setores como moda e indústria automóvel mostram que o cenário económico mudou significativamente desde a saída dessas empresas, tornando o retorno um desafio.

Enquanto a Ucrânia lembrava o aniversário da incursão militar russa, o ex-presidente dos EUA, Donald Trump, sugeriu que o conflito poderia ser encerrado em poucas semanas, embora sem detalhes concretos sobre como isso aconteceria. Contudo, mesmo com o eventual fim das hostilidades, as sanções ocidentais ainda dificultam pagamentos internacionais e fluxos comerciais, o que pode impedir um retorno em grande escala das empresas estrangeiras.

Caso optem por voltar, as empresas ocidentais enfrentarão um mercado profundamente alterado, revela a ‘Reuters’. As marcas nacionais fortaleceram a sua posição, e, no setor automóvel, os fabricantes chineses agora dominam as vendas. Um exemplo é a rede de moda masculina Henderson, listada na Bolsa de Moscovo no final de 2023, que beneficiou da saída de concorrentes estrangeiros ao garantir melhores espaços nos centros comerciais. Com isso, a empresa registou um crescimento três vezes superior à média anual do setor.

Os espaços privilegiados nos centros comerciais russos, antes ocupados por marcas de luxo ocidentais, pertencem agora a empresas locais

Além disso, bens de consumo não estão sob sanções, permitindo a continuidade das importações paralelas, que possibilitam a venda de produtos ocidentais sem a permissão das marcas proprietárias.

O governo russo também não deve facilitar um possível retorno. O presidente Vladimir Putin declarou recentemente que os fabricantes nacionais terão prioridade caso as empresas estrangeiras tentem voltar. Além disso, Kirill Dmitriev, enviado especial do governo para cooperação económica, afirmou que algumas empresas americanas podem retornar já no segundo trimestre deste ano, sem revelar quais.

Desde o início do conflito, mais de mil empresas ocidentais deixaram a Rússia, algumas devido a sanções e dificuldades financeiras, outras como forma de protesto contra a invasão da Ucrânia.

Entretanto, as marcas russas já se preparam para competir com eventuais retornos das gigantes ocidentais, e estão confiantes de que podem competir com as marcas estrangeiras.