Em exílio: Juan Carlos muda-se já em julho para Cascais enquanto espera regresso a Espanha

O rei emérito de Espanha, Juan Carlos I, prepara-se para abandonar o seu exílio nos Emirados Árabes Unidos e mudar-se já em julho para Portugal, mais concretamente para Cascais. A decisão, noticiada pela imprensa espanhola, marca uma nova fase no prolongado afastamento do antigo monarca, que continua impedido de regressar a Espanha, mas terá obtido a autorização do filho, o rei Felipe VI, para se instalar o mais próximo possível de Madrid.

A mudança, designada informalmente como “Operação Cascais”, assinala o fim de cinco anos de permanência nos Emirados, onde Juan Carlos se refugiou em agosto de 2020, na sequência de vários escândalos judiciais e suspeitas de corrupção que afetaram a sua imagem e colocaram pressão sobre a monarquia espanhola. Agora, com o regresso ainda fora de hipótese, Cascais surge como uma solução de compromisso que permite ao rei emérito manter-se por perto da capital espanhola sem regressar formalmente ao país.

Cascais é um território familiar para Juan Carlos, que ali viveu durante parte da juventude, quando a família Bourbon esteve exilada em Portugal após o fim da Guerra Civil Espanhola. A ligação afetiva à vila costeira é reforçada por uma rede de relações pessoais que o rei emérito continua a cultivar: entre os amigos portugueses destacam-se figuras como Francisco Pinto Balsemão, as famílias Pereira Coutinho e Espírito Santo, e o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.

Esta não é a primeira vez que se pondera a mudança para Portugal. Em 2020, a hipótese de Juan Carlos se instalar em Cascais foi considerada pela Casa Real, mas as condições oferecidas por Abu Dhabi — segurança, luxo e discrição — acabaram por pesar mais na decisão. Agora, segundo os mesmos relatos da imprensa espanhola, o rei emérito estará “farto do exílio de luxo” e determinado a regressar à Península Ibérica, mesmo que ainda não possa voltar à residência oficial no Palácio da Zarzuela, nos arredores de Madrid.

A mudança de Juan Carlos para Portugal é vista como uma tentativa de reaproximação progressiva a Espanha, sem provocar um impacto político direto. O consentimento do rei Felipe VI para a nova residência do pai terá sido dado com essa lógica em mente, permitindo manter um certo distanciamento simbólico, mas facilitando uma eventual transição futura. A imprensa espanhola descreve esta fase como um verdadeiro “braço de ferro” entre pai e filho, com Juan Carlos a insistir no regresso e Felipe VI a procurar proteger a estabilidade institucional da Coroa.

O exílio português traz ainda consigo um peso histórico. Foi em Portugal, no Estoril, que os Bourbon viveram durante décadas e onde, em 1956, ocorreu a morte trágica de Alfonso, irmão mais novo de Juan Carlos, num acidente com uma arma de fogo — um episódio que marcou a família e cujo disparo terá sido feito, acidentalmente, pelo próprio Juan Carlos.

A partir de julho, Cascais voltará assim a acolher o antigo soberano espanhol, que regressa a um cenário conhecido enquanto prossegue o impasse em torno do seu futuro em Espanha. Até nova ordem, o rei emérito ficará a viver a poucos quilómetros da fronteira, num novo capítulo do seu prolongado exílio europeu.