É verde, faz ‘companhia’ ao sushi e está a salvar vidas…. em alarmes de incêndio para pessoas surdas

Uma invenção inusitada desenvolvida no Japão promete salvar vidas em situações de incêndio, sobretudo entre a população surda ou com perda auditiva significativa. Trata-se de um alarme de incêndio que, em vez de emitir um som, liberta um odor pungente inspirado no wasabi — o tempero japonês conhecido pela sua intensidade picante.

O dispositivo, criado em 2008 por uma equipa de investigadores da empresa japonesa Seems, substitui o tradicional som estridente dos alarmes por um cheiro sintético extremamente forte, semelhante ao do wasabi, com o objetivo de acordar quem não consegue ouvir sinais sonoros de emergência. A motivação por detrás do projeto surgiu após dados revelarem que quase metade das vítimas de incêndios eram idosos — um grupo onde a perda auditiva é mais comum.

Segundo os criadores, a escolha do wasabi não foi aleatória. Depois de testarem centenas de odores, incluindo o de ovos podres, os cientistas optaram pelo misotiocianato de alilo, o composto responsável pelo cheiro pungente do wasabi e que provoca uma forte irritação nasal. Essa substância, quando dispersa no ar, é capaz de acordar até pessoas em sono profundo. “É por isso que as pessoas podem acordar depois de inalarem wasabi diluído no ar”, explicou na altura o psiquiatra Makoto Imai, envolvido no projeto, em declarações ao The Guardian.

O funcionamento do alarme é simples: em caso de incêndio, o dispositivo ativa-se automaticamente e liberta este composto químico no ambiente. Ao ser inalado, o odor picante atua como estímulo físico direto, provocando um desconforto súbito e obrigando a pessoa a despertar e reagir.

A inovação foi suficientemente notável para receber, nesse mesmo ano, o prémio Ig Nobel — uma distinção humorística atribuída a investigações científicas que, nas palavras da organização, “primeiro fazem as pessoas rir, e depois fazem-nas pensar”. Este prémio é conhecido por destacar projetos científicos criativos, pouco convencionais e, muitas vezes, surpreendentemente úteis.

A equipa da Seems destacou ainda, em entrevista à agência Reuters, a importância desta tecnologia para salvar vidas de pessoas surdas ou com dificuldades auditivas, especialmente em situações noturnas em que o perigo de não perceber um incêndio pode ser fatal.

O “alarme de wasabi” continua a ser um exemplo de como soluções criativas e sensíveis às limitações humanas podem ter um impacto direto na segurança pública. E se, à primeira vista, a ideia de usar um condimento japonês como sistema de alerta parece cómica, a sua aplicação prática revela uma utilidade bem séria.