“É tudo tão luxuoso que dá vontade de vomitar”: super-ricos transformam Saint-Tropez em ‘LVMH Ville’. Moradores locais revoltados

“Saint-Tropez transformou-se na LVMH Ville”: é provavelmente a única vila de pescadores do mundo em que é fácil comprar uma ‘mini’ bolsa Celine de 25 mil euros, uma gabardine Christian Dior de 4 mil euros ou uma mala Rimowa de 2 mil euros.

Desde que Brigitte Bardot começou a frequentar as suas praias na década de 1950, Saint-Tropez é mais conhecida como um local para ver uma celebridade mais facilmente do que um robalo fresco. Mas os habitantes locais dão sinais de que o afluxo anual dos super-ricos está a tornar-se excessivo. “Os restaurantes, hotéis e cafés independentes estão todos a ser comprados por grupos de luxo”, denunciou a vereadora municipal Vérane Guérin. “Não se está a tornar Saint-Tropez, mas sim LVMH Ville.”

A LVMH, empresa de artigos de luxo fundada e dirigida pela pessoa mais rica da Europa, Bernard Arnault, é proprietária das lojas Celine, Dior e Rimowa da cidade, bem como de várias das suas outras marcas, incluindo Fendi e Loewe. O conglomerado, cujo nome oficial é LVMH Moët Hennessy Louis Vuitton, também possui dois dos hotéis mais chiques da cidade: o Cheval Blanc e o White 1921. Há restaurantes LVMH que servem champanhe Moët & Chandon, um café Dior e até “LV by the Pool” – um clube de praia com espreguiçadeiras e guarda-sóis de marca.

O número de super-ricos – incluindo Arnault, a segunda pessoa mais rica do mundo depois de Elon Musk – que chega ao resort da Côte d’Azur fez disparar os preços dos imóveis, forçando muitos locais a mudarem-se permanentemente.

“As pessoas que estão aqui há gerações têm de se deslocar quilómetros para o interior e regressar ao trabalho. As casas, os apartamentos – foi tudo tomado”, diz Guérin. “São pessoas que viveram aqui o ano todo, enquanto os ricos só vêm passar semanas no verão. No inverno há tão poucas pessoas que é difícil para os supermercados continuarem a funcionar.”

Há um crescente número de pessoas com muito dinheiro a comprar casas ou a passar férias com amigos ricos – Drake, Uma Thurman, Diplo e Zac Efron foram vistos a festejar na cidade este verão –, o que levou a uma mudança tão rápida na demografia da cidade de pouco mais de 4 mil habitantes que os académicos garantem que “em breve não haverá nada além de bilionários”.

“Sempre houve pessoas ricas aqui”, diz Géraldine, que trabalha numa biblioteca pública de Saint-Tropez, escondida perto do café Dior, que cobra 12 euros por um chá gelado, e do hotel White 1921, onde os quartos começam a 600 euros por noite. “Mas agora são tantos, e é tudo tão luxuoso, que dá vontade de vomitar.” “Os bilionários não interagem connosco, só se querem exibir para os amigos e ficar nos seus bunkers em ‘Les Parcs’ ou nos seus super-iates.”

Les Parcs de Saint Tropez é um condomínio fechado numa colina com vista para a cidade velha do leste, de modo a proporcionar um pôr do sol perfeito. Entre os proprietários, além de Arnault, estão Vincent Bolloré, François-Henri Pinault, fundador da Kering, a empresa de luxo proprietária da Gucci, Balenciaga e Bottega Veneta, entre outros. Um visitante pode ser recebido por três seguranças a cerca de 50 metros antes de chegar ao portão que impede o acesso ao condomínio. As quase 100 câmaras de segurança são lestas a sinalizar “uma presença suspeita”.

Os preços dos imóveis estão entre os mais altos do mundo, segundo as imobiliárias Knight Frank e Sotheby’s. Embora a propriedade tenha sido sempre cara, o preço médio das suas quase 200 casas aumentou de cerca de 5 milhões de euros, há uma década, para mais de 13 milhões de euros hoje, embora seja raro mudarem de mãos.

Uma villa à beira-mar chamada Octopussy, inspirada no filme Bond de 1983, foi recentemente colocada à venda por valores superiores a 40 milhões de euros. A casa de nove quartos – que pode ser acedida por barco ou helicóptero – está agora disponível para arrendar por 71.400 euros por noite. “Os preços são francamente ridículos”, acusou Guérin. “Sâo tão elevados que mesmo as pessoas que antes considerávamos ricas não conseguem comprar nos melhores locais. Os 0,1% do mundo compram tudo e isso fez subir os preços.”

A Henley & Partners, uma empresa com sede em Londres que aconselha os super-ricos na compra de residência e cidadania no estrangeiro, destacou Saint-Tropez como um hotspot mundial para os super-ricos comprarem propriedades mas não para viver. De acordo com os especialistas, mais de 100 pessoas, cada uma com mais de 100 milhões de dólares em rendimento disponível, visitaram segundas casas em Saint-Tropez em 2022 mas apenas 11 viveram lá durante todo o anos.

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