E se Santorini ‘explodir’? Estudos vulcanológicos mostram que erupção pode ser muito mais destrutiva do que se pensava

Santorini já explodiu antes: aliás, a ilha mais fotografada do panorama europeu nasceu de uma erupção, que terá sido por volta de 1628 a.C. Mas poderá acontecer novamente? Pode a famosa ilha da Grécia passar por nova explosão causada pelos poderosos movimentos concentrados na Terra?

Milhares de pessoas têm fugido de Santorini – que oficialmente se chama Thera -, que tem sido abalada por atividade sísmica intensa desde o passado dia 24: desde então, houve quase mil tremores de terra, de magnitude 4.9 na escala de Richter.

De acordo com os especialistas, os terramotos dos últimos dias são causados por falhas submarinas na área: e são cinco as falhas, cada uma a medir mais de 20 quilómetros, e que podem causar terramotos até 7.7 de magnitude. Foi o que aconteceu em 1956 em Amorgos, a ilha grega mais oriental do grupo de Cíclades e a mais próxima do vizinho grupo de Dodecaneso.

O terramoto de Amorgos teve uma magnitude de 7.7 na escala de Richter e uma intensidade máxima percebida de IX na escala de intensidade de Mercalli. Treze minutos depois, um terramoto de magnitude 7.2 ocorreu perto de Santorini: o choque sísmico e o tsunami subsequente (de até 30 metros de altura) causaram a morte de 53 pessoas. Foi o maior terremoto a ocorrer na Grécia no século XX.

Mas Santorini pode entrar em erupção?

É uma zona que historicamente de alta atividade sísmica. Na realidade, Santorini é o que resta de uma enorme explosão vulcânica que ocorreu há aproximadamente 3.500 anos, durante a Idade de Bronze, lembrou a publicação espanhola ’20 Minutos’. A erupção devastadora foi datada de várias maneiras: entre 1639 e 1616 a.C., 1628 a.C. e entre 1530 e 1500 a.C.

A explosão destruiu as localidades existentes na ilha e desencadeou um tsunami que devastou o Mediterrâneo Oriental. Segundo algumas teorias, isso pode ter causado indiretamente o colapso da civilização minoica na ilha de Creta, localizada 110 km ao sul.

Após cada erupção, o vulcão por baixo da caldeira de Santorini começa a recarregar… até nova explosão. De acordo com os vulcanologistas, a ilha está a meio do ciclo, ou seja, longe de uma explosão dramática. Até agora, não foi detetado qualquer sinal de ascensão de magma. Mas os especialistas estão mais preocupados com Kameni.

O risco de Kameni

Subdução é o processo de afundamento de uma placa litosférica sob outra. Ora, o complexo vulcânico de Santorini marca a subdução da placa tectónica africana sob a subplaca do mar Egeu, que faz parte da placa tectónica eurasiana. Move-se a uma velocidade de 5 centímetros por ano na direção nordeste. Essa subdução é a responsável pelos terramotos.

Este arquipélago grego é composto pelas ilhas de Santorini e Thirasia (habitadas) e pelas ilhotas desabitadas de Nea Kameni, Palea Kameni, Aspronisi e Christiana, que são o setor mais ativo do arco vulcânico do sul do Mar Egeu. Os dois Kameni estão localizados no centro do grupo como dois picos que se projetam da água e são formados por rochas de lava.

Nea Kameni e Palea Kameni foram formadas como resultado de múltiplas erupções inicialmente submarinas no centro da caldeira. Em 726, um deles ejetou pelo menos 2,8 mil milhões de metros cúbicos de lava, cinzas e rochas.

Essa explosão foi comparável à do vulcão submarino Hunga Tonga-Hunga Ha’apai no Pacífico em 2022, de acordo com um estudo publicado em 2024 na ‘Nature Geoscience’ . “O índice estimado de explosividade vulcânica de magnitude 5 supera os cenários eruptivos anteriormente considerados os piores para Santorini”, apontou o estudo liderado por Jonas Preine, geofísico da Universidade de Hamburgo (Alemanha).

Ou seja, o caso de Kameni é mais sério do que se pensava. “A nossa descoberta de que a caldeira de Santorini é capaz de produzir grandes erupções explosivas num estágio inicial do ciclo da caldeira implica um alto potencial de risco para a região oriental do Mediterrâneo”, avisou o estudo.

A última vez que o vulcão Kameni entrou em erupção foi em 1950. Foi só um susto. Então, entre 2011 e 2012, a caldeira mostrou sinais de inflação magmática e houve alguns movimentos sísmicos. E agora, no início de 2025, tem sido registada novamente atividade sísmica, por enquanto nas falhas e não tanto nas ilhas que compõem o complexo vulcânico de Santorini. As autoridades, e com elas os vulcanólogos, continuam em alerta.