
E se a NATO entrar em guerra? Portugueses podem pagar a fatura com mais impostos e menos apoios sociais
Com a NATO a preparar uma nova fase de investimento em defesa, perante o risco de um alastramento da guerra na Europa, cresce a preocupação sobre quem vai pagar a conta. Se o conflito com a Rússia se intensificar e envolver diretamente a Aliança Atlântica, os sacrifícios poderão recair sobre os cidadãos, através de aumentos de IVA e IRS, cortes em prestações sociais e eventuais racionamentos.
Na cimeira marcada para 24 e 25 de junho, em Haia, os países membros vão discutir o aumento do investimento em defesa para 5% do PIB, num momento em que a fragilidade económica não permite grandes margens de manobra. O economista Henrique Pita Barros antecipa à ‘Renascença’ que o Estado recorrerá a impostos sobre o consumo e o rendimento das famílias para financiar o esforço de guerra, evitando penalizar empresas e sectores essenciais como saúde e educação. Poderão também surgir impostos extraordinários sobre heranças ou lucros de guerra, como forma de aliviar tensões sociais.
Mesmo assim, os fundos arrecadados dificilmente serão suficientes, e a contratação de dívida pública será inevitável — à custa das gerações futuras, alerta Pita Barros. O plano europeu Prontidão 2030, com 800 mil milhões de euros para reforçar a indústria de defesa, aponta nesse sentido. No entanto, para garantir o apoio popular, os governos terão de justificar os sacrifícios, num contexto em que apenas 8% dos portugueses consideram a defesa uma prioridade, segundo o Eurobarómetro.
Ainda assim, há quem veja neste desafio uma oportunidade. A historiadora Ana Paula Pires destaca o potencial de inovação e crescimento económico associado ao setor da defesa, como aconteceu com a internet ou os anestésicos em guerras passadas. Já Manuel Poêjo Torres, ex-analista da NATO, defende que Portugal deve apostar na produção de munições e atrair indústrias estratégicas, podendo tornar-se uma plataforma relevante no seio da Aliança. Para isso, avisa, é preciso ambição e uma visão clara de que a segurança nacional é responsabilidade de todos.