Diversificar o portefólio: a regra de ouro dos investidores
O estado da economia é imprevisível. Há empresas mal geridas que desaparecem. Crises económicas que afetam determinados setores (como a bolha imobiliária subprime de 2008 ou a das dot.com no início dos 2000). Na economia capitalista há também a chamada destruição criadora: indústrias novas que ocupam o lugar de indústrias ultrapassadas. Um exemplo? Nos finais do século XIX, a eletricidade substituiu por completo a querosene como principal instrumento de iluminação das ruas e habitações.
Agora imagine um investidor que, durante a crise de 2008 só tenha apostado no imobiliário, que só tivesse investido nas empresas tecnológicas durante a bolha da internet ou que tivesse colocado todo o seu capital na indústria da querosene no século XIX. Provavelmente seria arrasado. Daí que, nas palavras de Warren Buffett, a “diversificação é proteção contra a ignorância”. Prever o balançar da economia pode ser complicado. Daí que diversificar é importante para diluir o risco.
Aposte nas sardinhas e na indústria aeroespacial
Já vimos a importância de diversificar. Para se proteger da queda de determinadas indústrias, o investidor deve manter participações em indústrias separadas com pouca correlação entre elas. Isto porquê? Porque mesmo mantendo participações em indústrias diferentes, mas que funcionam no mesmo ramo, há crises setoriais que têm um efeito negativo em cadeia. Por exemplo, se está a investir na indústria automóvel deve evitar (se quiser diversificar) investir também em fabricantes de peças automóveis ou mesmo nos produtores de matérias-primas (como aço, plástico ou alumínio) que estão altamente relacionados com esta indústria. Se houver uma crise no setor, provavelmente estes também sofrerão por tabela e, se tiver investido aqui, poderá sofrer perdas.
A solução? Diversifique em indústrias com pouca correlação. Fazendo jus ao subtítulo, aposte na indústria conserveira da sardinha e na indústria aeroespacial ao mesmo tempo. Em princípio, uma crise que afete uma não afetará a outra. E, claro, temos falado só em ações, mas a diversificação vai além das mesmas. Pode (e deve) diversificar com diferentes classes de ativos: imobiliário, moeda, obrigações, “commodities” e outros.
Além disto, tenha cuidado ao escolher fundos mútuos. Estes podem dar a falsa sensação que está a diversificar, quando não está. Isto porque, muitas vezes, estes têm investimentos setoriais: podem ser fundos mútuos que investem, por exemplo, somente em telecomunicações ou na área da saúde e isto não o protege das crises que afetam a respetiva indústria de forma transversal.
E quanta diversificação é diversificação a mais?
Se diversificar é importante, diversificação a mais pode até ser contraproducente. Surge então a questão: quando é que deixa de ser eficiente continuar a diversificar o seu portefólio? De acordo com a Modern Portfolio Theory aproximamo-nos da diversificação óptima quando adicionamos a vigésima ação diferente ao nosso portfólio. No seu livro “Modern Portfolio Theory and Investment Analysis”, Edwin J. Elton e Martin J. Gruber concluíram que enquanto a diversificação dos 20 primeiros tipos de ações diminuía o risco para cerca de 20%, a partir daí, cada ação adicional apenas diminui o risco em 0,8%.
É preciso ainda ter em atenção que, por muita diversificação que se tenha, há riscos que não são evitáveis. Os riscos sistémicos como a inflação, taxas de juro, taxas de câmbio ou mesmo instabilidade política são transversais a todas as indústrias e são riscos que os investidores simplesmente têm que aceitar.
Em suma, não são só os cartões de crédito com diferentes condições ou o crédito pessoal que deve comparar. Mesmo quando investir em ações, obrigações, moeda ou imobiliário deve aferir quais são as melhores oportunidades de conseguir um bom rendimento com menor risco.