Diesielgate: Nove anos depois, arranca hoje julgamento do ex-CEO da Volkswagen, Martin Winterkorn
O tão aguardado julgamento de Martin Winterkorn, ex-CEO da Volkswagen, terá início hoje no Tribunal Regional de Braunschweig, quase nove anos após o escândalo “Dieselgate” vir a público. Este processo judicial procura esclarecer em detalhe o papel de Winterkorn na manipulação dos motores a gasóleo, uma prática que afetou milhões de veículos na Europa e nos Estados Unidos.
O escândalo, revelado em setembro de 2015 pela Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA), envolvia a instalação de software nos carros para manipular os testes de emissões, fazendo-os parecer menos poluentes do que realmente eram. A fraude resultou numa das maiores crises da história da Volkswagen, com custos que ascenderam a milhares de milhões de euros em multas e indemnizações.
O tribunal agendou cerca de 90 sessões para este julgamento, que se espera que dure até setembro de 2025. Apesar das recentes preocupações sobre a saúde de Winterkorn, que passou por uma cirurgia ao joelho em julho e esteve em reabilitação, o tribunal manteve a data de início do julgamento. Não houve indicações de um possível adiamento, apesar das dúvidas sobre a capacidade de Winterkorn de comparecer regularmente em tribunal devido à sua condição física debilitada.
Histórico do Caso e Separação de Processos
Este não é o primeiro julgamento em que Winterkorn deveria ter estado presente. Em setembro de 2021, ele e outros quatro ex-executivos da VW foram acusados de fraude comercial em massa devido ao programa de manipulação das emissões. Contudo, pouco antes do início desse julgamento, um relatório médico concluiu que Winterkorn não estava apto para ser julgado devido a várias operações à anca, o que levou à separação do seu caso dos demais. Esta decisão foi criticada por muitos, uma vez que atrasou ainda mais o processo contra o ex-CEO.
Agora, com o início de um novo julgamento, o tribunal apresentou um resumo de seis páginas detalhando as acusações contra Winterkorn. Ele é acusado de fraude comercial, manipulação do mercado e de prestar falsas declarações. Especificamente, a acusação alega que Winterkorn enganou os compradores da VW sobre a qualidade dos veículos e, nos dias críticos de setembro de 2015, falhou deliberadamente em informar o mercado de capitais sobre os riscos iminentes de multas. Além disso, é acusado de ter dado falso testemunho ao Comité de Inquérito do Bundestag em 2017.
Impacto do “Dieselgate” e Declarações de Winterkorn
O escândalo “Dieselgate” envolveu cerca de nove milhões de veículos na Europa e nos Estados Unidos, causando prejuízos de centenas de milhões de euros aos compradores. A crise, sem precedentes na história da Volkswagen, resultou na demissão de Winterkorn, que mais tarde reconheceu que o seu nome estava irremediavelmente ligado ao escândalo. No entanto, ele sempre negou qualquer responsabilidade criminal.
Em 2024, Winterkorn testemunhou pela primeira vez num processo civil bilionário movido por investidores contra a Volkswagen, no Tribunal Regional Superior de Braunschweig. Na sua declaração, afirmou: “Considero estas alegações infundadas”, referindo-se às acusações de fraude e manipulação do mercado apresentadas pelo Ministério Público de Braunschweig e às acusações de falso testemunho levantadas pelos procuradores de Berlim.
Durante o seu depoimento, ficou claro que a saúde de Winterkorn estava comprometida, necessitando de pausas frequentes durante os interrogatórios. Este cenário provavelmente repetirá-se durante o julgamento criminal, caso este decorra conforme planeado.