
De notas enterradas a dinheiro escondido no micro-ondas: Foi assim que Portugal perdeu milhões de euros na última década
Nos últimos dez anos, o Banco de Portugal teve de substituir 317 mil notas danificadas, num valor total de 13,8 milhões de euros. A principal causa? Dinheiro escondido por cidadãos, muitas vezes enterrado no solo, que acabou deteriorado pela humidade, insetos ou até mesmo pelo fogo.
Em 2024, o Banco de Portugal recebeu um número recorde de pedidos de substituição de notas danificadas, no total de 1,7 milhões de euros. De acordo com José Luís Ferreira, coordenador da área operacional de numerário do Banco de Portugal, muitas dessas notas ficaram inutilizadas devido à humidade do solo. “A maioria das notas são estragadas porque as pessoas as enterram. Com o tempo, a humidade e os insetos fazem com que se deteriorem”, explicou à ‘Euronews’.
Embora enterrar dinheiro seja uma prática comum, há casos mais peculiares. Há relatos de notas guardadas em micro-ondas, lareiras e até fossas sépticas. Para José Luís Ferreira, esta prática pode estar ligada à falta de confiança nos bancos ou à necessidade de manter dinheiro acessível em caso de emergência. “Ainda há quem acredite que esconder notas protege os seus bens de roubos ou desastres naturais”, afirmou.
O período da pandemia da Covid-19 intensificou esta prática. Em 2022, o Banco de Portugal recebeu 40.954 notas para substituição, num total de 1,5 milhões de euros. O coordenador da área operacional de numerário do Banco de Portugal recorda ainda o impacto dos incêndios de 2017, que em 2018 levaram à recuperação de 32 mil notas, correspondendo a cerca de 1,75 milhões de euros. Entre os casos mais emblemáticos está o de um empresário do setor da madeira que guardava 40 mil euros num cofre para pagar salários e viu o dinheiro ser destruído pelo fogo.
A avaliação de notas danificadas segue critérios rigorosos estabelecidos pela Eurozona. Para que o valor seja reembolsado, os fragmentos da nota devem representar mais de 50% da sua superfície e permitir a identificação dos elementos de segurança. Um software desenvolvido em Portugal ajuda os técnicos a medir a proporção de cada fragmento e a validar a autenticidade das notas.