Crise energética: Europa quer ter 20 terminais de gás “flutuantes” para contornar cortes russos. Cientistas alertam que não deve ser solução a longo prazo
Numa altura em que os países da Europa procuram alternativas para reduzir os impactos dos cortes aplicados pela Rússia no abastecimento de gás ao ‘velho continente’, está a ser acionado um plano que se apoia em cerca de 20 navios que servirão para converter gás natural liquefeito em combustível pronto a usar pelos consumidores.
Espera-se que esses primeiros “terminais flutuantes” comecem a fornecer gás natural à Europa já no final deste ano, mas alguns cientistas consideram que essa medida não deverá ser uma solução a longo prazo, pois manterá, durante muitos anos e até décadas, a dependência europeia dos combustíveis fósseis e desviará o continente dos seus objetivos climáticos.
Com o despoletar da guerra da Rússia contra a Ucrânia, a Europa em procurado colmatar as falhas deixadas pelos sucessivos cortes no gás russo, e procurado aumentar as quantidades de gás compradas a outros fornecedores, como os Estados Unidos.
Para poder responder a reforço das importações europeias, os EUA estão a aumentar os seus terminais de exportação de gás, tendo já vários residentes alertado para a intensificação de perfurações para extração desse produto energético, resultando na perda de terra e maiores riscos ambientais.
John Sterman, cientista do Massachusetts Institute of Technology (MIT), explica à ‘AP News’ que “construir esta imensa infraestrutura de gás natural liquefeito irá manter o mundo dependente dos combustíveis fósseis e de contínuos danos ao clima durante várias décadas”.
O especialista aponta que o perigo não reside somente na queima do gás natural, mas também advém de fugas que acontecem frequentemente em navios que transportem esse produto, contaminando o mar e o ar.
Apesar das promessas da União Europeia para abandonar os combustíveis fósseis e de o bloco ter tomada a dianteira da transição energética a nível mundial, ao colocar em operação esses 20 “terminais flutuantes” são uma machadada nos compromissos assumidos, defendem os cientistas.
Esses navios terão capacidade para armazenar cerca de 170 mil metros cúbicos de gás natural liquefeito, convertendo-o em gás que será usado por consumidores domésticos e empresas no continente. E são mais rápidos e baratos de construir do que terminais fixados na costa.
De acordo com a consulta energética Rystad Energy, cada navio custa cerca de 500 milhões de euros, um valor que os cientistas consideram que seria mais bem investido em projetos e tecnologias de produção de energia limpa e renovável ou no aumento da eficiência energética da Europa.
Em março, o ‘Euractiv’ relatava a França e a Alemanha, um dos países da União Europeia mais dependentes do gás russo e que mais tem sofrido com os cortes aplicados pelo Kremlin, tinha expressado interesse na proposta dos “terminais flutuantes”. Mas também a Grécia, a Itália, a Estónia, a Finlândia, os Países Baixos já estão a investir nesse tipo de navios.