Crise climática: Mundo está à beira de vários “desastrosos” pontos de não retorno, alertam cientistas
As alterações climáticas, provocadas pela ação humana, têm empurrado o planeta para o limiar de vários pontos de não retorno que serão “desastrosos” para a vida na Terra.
O alerta é deixado num estudo publicado esta sexta-feira na revista científica ‘Science’, no qual os especialistas salientam que alguns desses pontos dos quais não haverá regresso poderão já ter sido ultrapassados, devido ao aquecimento médio global de 1,1 graus centígrados que se regista atualmente.
Do conjunto de eventos catastróficos que devem servir de alarme para as sociedades humanas em todo o mundo, contam-se a derrocada das capas de Gronelândia, que provocará um aumento significativo do nível do mar, o colapso da corrente marítima do Atlântico Norte, que é crucial para a regulação do sistema climático, para a formação de nuvens e de precipitação e para a produção alimentar, e o degelo repentino do permafrost (pergelissolo, em português, termo que designa um tipo de solo que está permanentemente congelado, principalmente na região do Ártico).
De acordo com o estudo, se a temperatura média global subir aos 1,5 graus, o aumento mínimo apontado pelas previsões atuais, mais pontos de não retorno passam da categoria de “possíveis” para a de “prováveis”. Contudo, com esse aumento de temperatura deverão ser esperadas alterações profundas na composição das florestas mais a norte do globo e a perda de praticamente todos os glaciares montanhosos.
No total, o estudo identifica 16 pontos de não retorno, sendo que seis deles só deverão acontecer num cenário de aquecimento global acima dos 2 graus centígrados, em linha com os cálculos dos cientistas, que estimam que a concretização dos pontos de não retorno poderá variar entre os poucos anos e alguns séculos, pelo que alguns deles poderão vir a ser testemunhados ainda durante a vida de muitos atualmente vivos.
“A Terra poderá ter deixado um estado de ‘segurança’ climática com temperatura acima de 1 grau centígrado”, explicam no artigo, recordando que a civilização humana, como um todo, desenvolveu-se com temperaturas globais abaixo desse nível. Dessa forma, passando essa barreira, esse ponto de não retorno, deverá esperar-se um efeito de cascata que fará o mundo passar outras metas que tratarão grandes desafios a todos.
Johan Rockström, dirigente do Instituto de Potsdam para a Investigação sobre os Impactos Climáticos, afirma que “o mundo caminha em direção a um aquecimento global entre os 2 e 3 graus centígrados”, cita do ‘The Guardian’.
“Isto coloca a Terra num caminho no qual ultrapassará múltiplos pontos de não retorno perigosos que serão desastrosos para as pessoas em todo o mundo”, avisa, acrescentando que “para manter condições propícias à vida na Terra e para permitir sociedades estáveis, temos de fazer tudo o que pudermos para evitar passar esses pontos de não retorno”.
Os autores do estudo escrevem que “a nossa análise oferece fortes evidências científicas de que precisamos de agir urgentemente para mitigar as alterações climáticas.”
“Mostramos que mesmo o objetivo do Acordo de Paris para limitar o aquecimento a menos de 2 graus (…) não é seguro, pois com 1,5 graus ou acima podemos ultrapassar vários pontos de não retorno”, alertam.