Crise climática: Cidades de madeira podem reduzir em 100 mil milhões de toneladas as emissões de CO2 até 2100, revela novo estudo

Os cenários futuristas, alimentados por filmes de ficção científica como ‘Blade Runner’ e muitos outros, mostram cidades feitas de betão, repletas de luzes fluorescentes, painéis digitais gigantescos e hologramas publicitários. Mas e se as cidades fossem contruídas de madeira, em vez de betão?

Um novo estudo, publicado na revista científica ‘Nature’, revela que se as novas habitações construídas em centros urbanos fossem feitas de madeira, seria possível reduzir as emissões de dióxido de carbono (CO2) em perto de 100 mil milhões de toneladas de CO2 lançados na atmosfera até ao final do século.

Essa redução colocaria as sociedades humanas 10% mais próximas da concretização do limite de 2 graus centígrados do aumento da temperatura global até 2100, em linha com os objetivos do Acordo de Paris de 2015.

Contudo, essa transformação no setor da construção exigiria mais 149 milhões de hectares de novas plantações madeireiras, e aumentar a exploração de áreas florestais que não estão cobertas por estatutos de proteção.

Abhijeet Mishra, o principal autor do estudo científico, explica que “mais de metade da população mundial vive hoje em cidade, e até 2100 esse número aumentará significativamente”, o que significa que serão necessárias mais casas, que serão construídas de metal e betão, “muitas das quais têm uma séria pegada de carbono”.

“Mas temos uma alternativa”, salienta o especialista, afirmando que “podemos alojar a nova população urbana em edifícios de altura média – entre os quatro e os 12 andares – feitos de madeira”.

O grupo de cientistas argumenta que a madeira tem uma pegada de carbono menor do que qualquer outro material de construção atual, visto que o CO2 que é armazenado pela madeira durante o processo de crescimento das árvores não será libertado até que a madeira seja destruída.

Deve destacar-se que os cálculos do estudo têm em linha de conta a proteção das áreas de conservação da biodiversidade e de florestas pristinas, frisando os especialistas que “a salvaguarda explícita dessas áreas protegidas é chave” para um futuro mais sustentável com casas de madeira.

Ainda assim, os ambientalistas defendem que aumentar a área de plantações para extração de madeira, mesmo que em zonas não protegidas, não promoverá a diversidade biológica, pois essas áreas de plantação tendem a ser menos biodiversas do que florestas naturais, e estão mais expostas ao risco de incêndio.

Sini Eräjää, responsável da campanha de alimentação e florestas da Greenpeace Europa, afirma que construir cidades de madeira é “uma ideia terrível”, pois implica o corte de florestas naturais para substituí-las por plantações de madeira.

“Seria um desastre para a natureza e para o clima”, aponta a ambientalista, citada pelo ‘The Guardian’, explicando que “Florestas naturais e biodiversas são mais resilientes a secas, a fogos e a doenças, e são sumidouros de carbono mais seguros do que plantações de árvores, que temos visto a serem consumidas pelos fogos de verão, desde Portugal à Califórnia”.

Eräjää reconhece que “a madeira pode desempenhar um maior papel na construção, mas duplicar as plantações de árvores em todo o mundo às custas de uma natureza de valor inestimável é simplesmente tolo, quando reduções modestas na produção de carne e leite poderá libertar a terra necessária” para essas plantações.

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