Crise climática atormenta os mais novos. Crianças sofrem de «ansiedade ambiental», aponta estudo

Há cada vez mais crianças e jovens, preocupados com o estado do meio ambiente, a chegar às consultas de mais de metade dos psiquiatras infantis do Reino Unido com aquilo a que os especialistas chamam de «ansiedade ambiental», de acordo com um estudo citado pelo ‘The Guardian’.

As conclusões mostram que a crise climática está a afetar a saúde mental dos mais jovens. Os níveis de «ansiedade ambiental» observados foram notavelmente mais elevados nesta faixa etária do que na população em geral, de acordo com o Royal College of Psychiatrists, que acaba de lançar os seus primeiros recursos para ajudar crianças e os seus pais a lidar com o medo do colapso ambiental.

Na pesquisa, realizada em conjunto com o serviço de saúde britânico, a organização perguntou aos psiquiatras: «No ano passado, teve pacientes preocupados com questões ambientais e ecológicas?». 57,3% dos especialistas infantis (47 do total de 82) responderam afirmativamente, uma subida de quase mais 10 pontos face aos restantes de todas as faixas etárias, 47,9% (264 de 551).

Ainda que sejam necessários mais estudos, os profissionais da área relatam que as descobertas estão de acordo com a sua experiência. Para Bernadka Dubicka, presidente da Faculdade de Psiquiatria Infantil e Adolescente do Royal College of Psychiatrists, as gerações mais jovens estão a crescer com um cenário constante de medo e preocupação sobre o futuro do planeta.

A isto, juntam-se também as pressões das redes sociais, dúvidas sobre a desinformação e agora a pandemia da Covid-19 e a crise económica, que segundo a especialista, estão a afetar a saúde mental dos mais jovens. «Nos últimos anos surgiu um novo conjunto de questões que os jovens se viram obrigados a enfrentar, coisas que afetam o seu futuro», afirmou.

Dubicka sublinhou que a preocupação com o meio ambiente é natural, mas se for levada ao extremo, pode desencadear ou agravar outros problemas de saúde mental. «Não queremos exagerar, mas a ansiedade ambiental pode transformar-se em algo prejudicial à saúde», disse.

«Se uma criança já tem problemas de saúde mental, isso pode agravar algumas dessas preocupações e ansiedades. Se um pai vê mudanças num filho, por exemplo, mais retraído, sem dormir ou comer, é importante que procure ajuda», alertou a responsável.

A organização deu mais ênfase ao tema este ano. A crise ambiental foi um tema central da sua conferência anual, que será seguida por uma série de ações e eventos, incluindo uma declaração pública em breve e mais estudos. O organismo elaborou uma lista de sinais de aflição ambiental: baixa autoestima, desamparo, raiva, insónia, pânico e culpa e propôs estratégias para evitar que esses sentimentos se tornem opressores.

Nestes sentido, os pais devem ouvir e explicar aos filhos que tais preocupações com o meio ambiente fazem sentido e são um sinal de alguém que é atencioso. Assim, recomenda-se passar algum tempo na natureza em família e trabalhar em ações que possam ajudar.