Criptomoedas, clonagem de cartões, ‘recrutamento’ de bailarinas para casas de alterne. Os casos que levaram à expulsão do juiz Hélder Claro

O ex-juiz Hélder Claro tornou-se o foco de uma vasta e complexa investigação criminal em Portugal, vendo-se envolvido numa acusações que vão desde corrupção até atividades ilegais de crime organizado. Este caso multifacetado não só revela o envolvimento de Claro em atividades ilícitas relacionadas com criptomoedas, como também abrange uma série de outras suspeitas graves, incluindo questões relacionadas com casas de alterne e corrupção em várias esferas.

O processo que culminou na sua acusação envolve um esquema complexo de criptomoedas, tráfico de influências, e uma série de atividades ilícitas que vão desde a clonagem de cartões bancários até a tentativa de branqueamento de capitais, segundo a acusação, como noticia o observador.

A Acusação
Hélder Claro está formalmente acusado de vários crimes graves, incluindo associação criminosa e aquisição de cartões e dispositivos de pagamento obtidos através de crime informático. O Ministério Público (MP) alega que Claro fez parte de um esquema para aceder ilegalmente a criptomoedas avaliadas em cerca de 90 milhões de euros. As principais figuras envolvidas além de Claro incluem o ex-agente da PSP Alberto Jesus Couto, conhecido como ‘Joca’, e o especialista informático Filipe Carneiro.

De acordo com o despacho de acusação, o grupo envolveu-se em atividades de interferência em Websites, clonagem de páginas e extração de dados dos utilizadores, clonagem de cartões , compra de dados de pagamento e cartões na Dark Web, interferência em sistemas de pagamento e manipulação dos mesmos à distância para desvio de fundos, entre outros.

O MP detalha que o grupo tinha a intenção de converter criptomoedas em euros, utilizando operações imobiliárias e empresas fictícias para branqueamento de capitais.

Claro negou todas as acusações, afirmando que seu envolvimento foi limitado a contatos superficiais com os outros arguidos e que desconhecia a natureza criminosa das suas atividades. Citado pelo Observador, afirmou: “O Filipe Azevedo foi-me apresentado como um especialista informático e o ‘Joca’ como um ex-polícia reformado por invalidez. Desconhecia qualquer ligação do ‘Joca’ a tráfico de droga e apenas contactei com ele durante três meses em 2022, que foi a altura em que esse negócio esteve em estudo.”

As buscas realizadas em junho de 2023 foram cruciais para o fortalecimento dos indícios contra Hélder Claro. Durante as buscas aos vários arguidos e suspeitos foram encontrados Uua pen drive com dados de 23 cartões de crédito e equipamentos e documentos relacionados com a clonagem de cartões e a obtenção de dados de identificação. No telemóvel do ex-magistrado foram descobertos documentos de 17 páginas com códigos para aceder a carteiras de criptomoedas, documentos bancários digitalizados e uma procuração. Segundo o MP a documentação era destinada à ocultação de fundos obtidos através da apropriação ilícita de criptomoeda.

O caso de Hélder Claro está interligado com outras investigações, nomeadamente a Operação Vórtex e a Operação Babel. A Operação Vórtex levou à queda de Miguel Reis, presidente da Câmara de Espinho, e ao afastamento de Joaquim Pinto Moreira, antigo presidente da câmara de Espinho. A investigação revelou alegações de corrupção ativa envolvendo Francisco Pessegueiro e Paulo Malafaia, e tráfico de influência associado a Pinto Moreira.

A Operação Babel focou-se em Eduardo Vítor Rodrigues, presidente da Câmara de Vila Nova de Gaia, e também está interligada com as atividades de Claro. O caso iniciou-se a partir de uma investigação sobre a intermediação de Claro em depósitos suspeitos de um investidor iraniano, que levou à abertura de três inquéritos distintos.

Após um arquivamento inicial, a investigação foi reaberta sob a supervisão da procuradora-geral distrital Raquel Desterro. A nova fase da investigação foi liderada pela procuradora-geral adjunta Branca Lima e, mais tarde, pela procuradora-geral adjunta Elina Lopes Cardoso, que formulou a acusação formal contra Claro e outros arguidos.

Outras suspeitas contra Hélder Claro estão ligadas a possíveis ligações com casas de alterne e práticas de corrupção associadas. Os relatos sugerem que Claro teve envolvimento com uma rede de casas de alterne, o que levanta questões sobre corrupção e possíveis subornos. Esta parte da investigação está conectada a alegações de que o ex-juiz poderia ter recebido benefícios ou sido influenciado por pessoas ligadas a esses estabelecimentos.

Outro aspecto notável da investigação é a alegação de que Claro estava envolvido com um funcionário do Aldi, cuja identidade ainda não foi completamente revelada, e que teria sido corrompido para fornecer informações ou beneficiar o esquema de corrupção. Este caso específico destaca a amplitude da investigação e as várias frentes através das quais Hélder Claro estaria implicado em atividades ilícitas.

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