José Crespo de Carvalho: “Os rankings estão a provocar uma transformação profunda e necessária”

O Financial Times revelou o ranking das melhores escolas de negócio do mundo. Portugal conta com cinco instituições de ensino nesta distinção. À conversa com a Executive Digest, José Crespo de Carvalho, presidente do Iscte Executive Education, sublinha a relevância de estar entre os melhores.

Qual a importância para o Iscte Executive Education em estar no ranking do Financial Times?
Estar presente no ranking do Financial Times é uma distinção de enorme relevância para qualquer escola de formação de executivos. Para nós como para qualquer outra. Para o Iscte Executive Education, significa estar ao lado das melhores escolas do mundo, com reconhecimento pela qualidade do nosso trabalho, da nossa internacionalização e da relevância da nossa oferta para empresas e participantes. É um selo de excelência que nos orgulha, mas também nos responsabiliza. Ficar em Top 50 do Mundo e em Top 40 da Europa é, de facto, um orgulho e uma responsabilidade. Mais, ficar em primeiro lugar em Portugal para programas e origens internacionais dos participantes corresponde em tudo ao nosso pilar estratégico de internacionalização. Não poderia haver melhor reconhecimento.

Quais os principais fatores que contribuem para que o Iscte Executive Education faça parte do ranking do Financial Times?
Há vários fatores que contribuem para esta presença. Desde logo, o nosso modelo de ensino assente no conceito de Real Life Learning, altamente aplicado e orientado para resultados. Depois, a forte presença internacional — tanto de participantes como de professores como de origens geográficas —, a proximidade às empresas, a inovação pedagógica e o serviço customizado que prestamos. Tudo isto, combinado com 37 anos de experiência, faz a diferença. Porém, deixe-me que lhe diga que o grande, grande fator são os nossos participantes. Passados, atuais e certamente futuros.

O que vai fazer o Iscte Executive Education para manter ou melhorar a presença nesse ranking?
Vamos continuar a ouvir o mercado, a ajustar e inovar os nossos programas, e a reforçar a componente internacional. A aposta nas metodologias digitais, em novos temas críticos como inteligência artificial, e a ampliação de parcerias com escolas e empresas internacionais estão no centro da nossa estratégia para crescer de forma sustentada e com impacto. Para já, estamos com uma taxa média de satisfação de 9,5 em 10 na avaliação dos nossos participantes e empresas. Enquanto não chegarmos ao pleno (10 em 10) não descansaremos.

Quais os maiores desafios enfrentados pelo Iscte Executive Education para se manter entre as melhores escolas do mundo?
A concorrência global é muito forte. Nem sempre temos os meios a dar as notícias ou a interpretar os rankings e suas tabelas da melhor forma. Isso é prejudicial e é importante sensibilizá-los para a forma como se leem e interpretam tabelas e para fazerem jornalismo com verdade. Mas é, foi, um “blip” passageiro que ocorreu desta vez e que nos colou ao último em Portugal. O que, de facto, não é assim: ficámos em 3º de 5 em programas para empresas e em 4º de 5 em programas abertos. E em Top 50 no Mundo e Top 40 na Europa.
As exigências do Financial Times são elevadas e estão em constante evolução. Acresce a necessidade de manter uma equipa altamente qualificada, de inovar permanentemente e de mostrar resultados concretos. Temos ainda o desafio de competir internacionalmente a partir de Portugal, com recursos mais limitados face a outras geografias. E com salários incomensuravelmente mais baixos.

O Iscte Executive Education é uma das escolas portuguesas que está no ranking. Como se diferencia das demais?
As nossas principais diferenças estão na dimensão internacional e na satisfação global com programas (9,5 em 10 como disse). Em 2025, tal como no passado, somos a escola número 1 em Portugal em localização internacional, em percentagem de participantes internacionais e em programas internacionais, tanto abertos como customizados. Mas também nos diferenciamos pela aplicabilidade dos conteúdos, pela proximidade às empresas e por programas que resultam da escuta ativa do mercado.

O ranking considera os alunos internacionais que estudam no Iscte Executive Education. Qual a percentagem de estudantes internacionais?
Em alguns dos nossos programas avaliados pelo ranking, a percentagem de participantes internacionais chega aos 70% em alguns casos. Há programas 100% internacionais. Essa diversidade é de uma enorme riqueza — promove um ambiente multicultural e amplia a visão dos participantes e dos professores.

Quais as principais nacionalidades e qual a taxa de crescimento que preveem para o número de estudantes estrangeiros, nos próximos anos?
Temos forte presença de países lusófonos, como Angola, Brasil e Moçambique, mas também de mercados como os Emirados Árabes Unidos, Índia, França, Suíça e China. Estamos a projetar um crescimento anual de cerca de 10% anual no número de participantes internacionais nos próximos anos, com especial foco em África, América latina, Ásia e Médio Oriente.

Como vê a evolução dos rankings e a sua influência na transformação das escolas de negócios portuguesas?
Os rankings estão a provocar uma transformação profunda e necessária. Estão a forçar as escolas a adotar boas práticas internacionais, a medir impacto e a investir na experiência dos participantes. As escolas que não evoluírem nesse sentido vão simplesmente desaparecer do radar. A pressão é saudável e, a longo prazo, melhora o sistema. Se nesta questão fazer uma nota ela vai para um agradecimento aos nossos concorrentes que fazem e concorrem a este processo com lisura e verdade. Eles ajudam-nos sempre a ser melhores.

Em termos de negócio, como está a correr o ano para o Iscte Executive Education?
Está a ser um ano positivo. Crescimento, forte procura por programas abertos e customizados e uma taxa de renovação de parcerias empresariais muito interessante. Estamos a crescer nas áreas estratégicas e tecnológicas e a consolidar a nossa posição internacional. Mas há um número que devemos reter: ultrapassámos os 4000 alunos por ano em formação de média/longa duração por ano. Isso significa muito para nós. Trata-se de um crescimento nos últimos 6, 7 anos de mais de 500%.

A nova legislatura começou. Quais são os temas mais urgentes na área do ensino superior que o ministro Fernando Alexandre deve ter em conta?
Há vários temas urgentes. O financiamento é um deles mas na formação de executivos vive-se só de mercado. Na minha opinião é a internacionalização do ensino superior. As barreiras que temos tido em reconhecimento de programas, em vistos e burocracias para estudar em Portugal é gigantesca. Há uma pergunta que nos devemos certamente fazer: queremos ou não queremos internacionalizar? Porque se queremos muito vai ter de mudar. E se não quisermos tornar-nos-emos irrelevantes.