Crédito à habitação: fevereiro traz as primeiras reduções na prestação ao banco do último ano. Saiba quanto poderá poupar
Se tiver um crédito à habitação, pode fazer um sorriso… mas ainda não abrir o champagne. Isto porque fevereiro vai trazer, pela primeira vez desde abril de 2021, uma revisão do contrato em baixa, embora ligeira. No entanto, esta descida na prestação ao banco, que vai ser sentida por quem tiver contratos com maturidades de 3 e 6 meses, não encontra ainda reflexo nos contratos a 12 meses, que vai ainda sofrer um ligeiro agravamento mas com uma boa notícia: “Mantendo-se esta tendência, terá sido o último mês de subida. Em março, já haverá uma diminuição no valor do crédito à habitação”, contou Nuno Rico, especialista da DECO PROTeste.
“A tendência de descida que começou há três meses, com as médias de novembro, continua, apesar de ser muito ligeira. Foi maior na Euribor a 12 meses, que a taxa a descer 63 milésimas, enquanto na Euribor a 3 meses desceu apenas 6 milésimas. No entanto, este é o terceiro mês seguido – com exceção da Euribor a 3 meses – que globalmente desce”, frisou o economista contactado pela ‘Executive Digest’.
Mas vamos a números:
Tomemos como exemplo um empréstimo de 150 mil euros a 30 anos, com um spread (margem comercial do banco) de 1%:
– se o empréstimo tem como indexante a Euribor a 12 meses: a prestação que vai pagar no próximo ano irá subir para 770 euros, mais 25 euros (3,35%) em relação à prestação que pagou nos últimos 12 meses (745 euros). A taxa média registada este mês – dados até ao dia 26 de janeiro – foi de 3,616%.
– Já se o indexante for de 6 meses, prepare-se para entregar ao banco 796 euros, uma descida de 0,5% (cerca de 4 euros) face a agosto de 2023, quando a prestação se situava nos 800 euros. A taxa média fixou-se nos 3,899%.
– por último, se tiver um contrato a 3 meses: a taxa Euribor média é de 3,929%, o que significa uma redução da sua prestação de 0,49%: desce de 802 para 798 euros, menos 4 euros.
“Continua a haver uma inversão dos valores”, apontou Nuno Rico. “O que é sinal de que a perspetiva que tem o mercado é que esta descida se vai manter e que, dentro de um ano, os valores estarão mais baixos do que atualmente.”
“Apesar de haver reduções, os níveis das prestações continuam muito elevados”, alerta especialista
No entanto, a boa notícia está na redução das prestações, ressalvou o especialista. “Quero destacar esta novidade importante: pela primeira vez desde fevereiro de 2022, temos revisões em baixa das prestações, no caso das Euribor a 3 e 6 meses. Com descidas muito ligeiras, é um facto, mas pela primeira vez a prestação vai ser revista em baixa.”
Um cenário que promete ganhar ‘fôlego’ nos próximos meses. “O BCE (Banco Central Europeu) sinalizou que vai manter estas taxas restritivas durante mais algum tempo, e há ainda algumas preocupações com a inflação em algumas economias europeias, mas tudo indica que o pico já terá passado e já estaremos a ver a luz ao fundo do túnel”, referiu.
Os portugueses vão sentir algum alívio na prestação, sim, mas ainda é cedo para comemorar, frisou Nuno Rico. “Ainda não sentimos um alívio nos pedidos de ajuda à DECO, os números mantêm-se ao nível do final de 2023, por duas razões. Primeiro, apesar de já haver estas reduções, os níveis das prestações continuam muito elevados. No caso da Euribor a 12 meses, quem vir o seu contrato revisto em fevereiro, ainda vai significar um pequeno aumento. As famílias vão demorar algum tempo a que comecem a sentir esse alívio. Segundo, temos a questão de o custo de vida continua elevado. Apesar da redução da inflação, as famílias continuam com orçamentos muito apertados. Provavelmente, arriscaria que até ao final do primeiro trimestre não iremos sentir esse alívio.”
Este cenário mais favorável à carteira dos portugueses pode provocar um aumento da procura para a compra de casa? Nuno Rico deixou conselhos. “Existe esse receio mas é importante deixar esta mensagem aos consumidores: os preços do imobiliário continuam muito elevados. A correção em termos de preços ainda não aconteceu, esta a acontecer um abrandamento da evolução dos preços mas ainda não houve uma descida, quando comparado com há uns anos mas também ao rendimento dos portugueses”, apontou.
“Juntado a um cenário de ligeiro aumento do desemprego, diria que as perspetivas económicas que estamos a falar não serão as mais otimistas. Estamos num cenário eleitoral, não sabemos o que vai acontecer a partir de 10 de março, pelo que não há um contexto favorável”, referiu o especialista.
“Por isso os conselhos que temos dado aos consumidores vão na mesma linha: é preciso avaliar muito bem a condição financeira da família, a estabilidade e o nível dos rendimentos, procurar encontrar um imóvel que encaixe na taxa de esforço, o que é muito difícil, e ponderar sempre muito a questão da compra, uma vez que o que poderemos ter nos próximos meses ou anos um período de descida, sempre muito gradual”, alertou.
Até porque, concluiu, “é muito pouco provável que volte a acontecer o regresso às taxas de juro negativas. Foi um período excecional e que dificilmente se voltará a repetir”.
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