Covid.19. Economia chinesa regista maior contração desde 1970

A China sofreu a pior contração económica desde 1970, no primeiro trimestre deste ano, após ter paralisado durante quase dois meses, devido às medidas para travar a epidemia da Covid-19, foi anunciado esta sexta-feira.

A economia chinesa, a segunda maior do mundo, contraiu 6,8%, em termos homólogos, e a queda acentuada no consumo e atividade fabril sugerem que a recuperação será mais longa e difícil do que se previa.

Analistas que afirmaram anteriormente que a China podia recuperar ainda este mês estão agora a reduzir as previsões, à medida que os dados negativos se acumulam.

“Não acho que haverá uma recuperação real até ao quarto trimestre ou ao final do ano”, apontou o economista Zhu Zhenxin, do Instituto de Finanças Rushi, situado em Pequim.

O consumo doméstico, que no ano passado compôs 80% do crescimento económico da China, afundou 19%, em termos homólogos, entre janeiro e março, abaixo da maioria das previsões.

 

O Partido Comunista Chinês declarou vitória no combate à propagação do novo coronavírus no início de março e ordenou a reabertura de fábricas e escritórios. No entanto, cinemas, salões de beleza e outros negócios considerados não essenciais, mas que empregam milhões de pessoas, permanecem encerrados.

O turismo está também a lutar para recuperar.

Em Pequim e algumas outras cidades, medidas de distanciamento social e quarentena continuam a ser aplicadas. No final do mês passado, as autoridades chinesas baniram a entrada de estrangeiros no país, mesmo aqueles que têm estatuto de residente.

O consumo interno está também a demorar a recuperar, apesar das medidas do Governo para incentivar os gastos, através da distribuição de vales de compras e de uma campanha que mostra líderes do Partido a comer em restaurantes, visando incentivar as pessoas a voltarem a sair à rua.

Muitos consumidores estão, no entanto, receosos de gastar dinheiro, por medo de perderem o emprego e enfrentarem dificuldades financeiras. Outros continuam a temer ir a centros comerciais ou mesmo sair de casa.

“Definitivamente, vou ser mais poupado”, disse um gerente de marketing de 26 anos, residente em Pequim.

Zhang Lizhou disse que a sua empresa, que ainda não reabriu, está a pagar 1500 yuan (197 euros) por mês aos funcionários, mas que teme não poder cumprir com o crédito à habitação. A namorada perdeu o emprego, depois de a empresa falir, devido à epidemia, contou.

Trata-se de um golpe para as multinacionais europeias e norte-americanas, que esperam que a China tire a economia mundial da pior crise desde 1930.

O Partido Comunista apelou às empresas para continuarem a pagar aos funcionários e evitarem demissões, e está a prometer incentivos fiscais e empréstimos para ajudar os empreendedores a reerguerem-se.

Ainda assim, uma onda de falências inundou o mercado de trabalho.

As vendas de automóveis caíram 48,4%, no primeiro trimestre do ano, em relação ao ano anterior.

As exportações caíram 6,6%, em março passado, em relação ao ano anterior, uma melhoria em relação à queda de dois dígitos registada em janeiro e fevereiro, mas analistas alertaram que os exportadores provavelmente enfrentarão outra desaceleração, já que a luta contra o vírus paralisou, entretanto, a Europa e os Estados Unidos.

Previsões das consultoras Oxford Economics, UBS e Nomura indicaram que a China terá pouco ou nenhum crescimento económico este ano.

Pequim está a tentar estimular a atividade ao aumentar a despesa com a construção de redes de telecomunicações de última geração e outros projetos, mas o Partido no poder não quer injetar muito dinheiro na economia, temendo um forte aumento da dívida pública e da inflação, que está perto do nível máximo em sete anos.

Os líderes chineses poderão adotar medidas de estímulo pelo menos tão grandes como durante a crise financeira internacional de 2008, mas, desta vez, vão destacar “qualidade em vez de quantidade”, apontou Zhu.

Zhu acrescentou que o dinheiro provavelmente será destinado ao desenvolvimento tecnológico e melhor proteção social, e não à construção maciça, como aconteceu na última década.

A nível global, a pandemia de Covid-19 já provocou mais de 145 mil mortos e infetou mais de 2,1 milhões de pessoas em 193 países e territórios. Mais de 465 mil doentes foram considerados curados.

Para combater a pandemia, os governos mandaram para casa quatro mil milhões de pessoas (mais de metade da população do planeta), encerraram o comércio não essencial e reduziram drasticamente o tráfego aéreo, paralisando setores inteiros da economia mundial.

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