Corte de gás da Nigéria: Podem os consumidores portugueses ser afetados?

A Nigéria alertou Portugal de que haverá uma “redução substancial” do fornecimento de gás natural. As cheias no país, que mataram já centenas de pessoas, tiveram consequências na produção de GNL (gás natural liquefeito), o que levou a Galp, em comunicado à Comissão de Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), a revelar que a Nigéria LNG emitiu um aviso de “força maior”, indicando que as cheias causaram “uma substancial redução na produção e fornecimento de gás natural liquefeito”. A Nigéria fornece mais de metade do gás que Portugal consome, pelo que são esperadas graves perturbações.

Que implicações pode ter esta redução nos consumidores nacionais?

Bastantes. Face à redução do abastecimento, a Galp poderá ver-se obrigada a recorrer ao mercado spot para contratar mais navios GNL, embora a preços mais altos. Portugal não pode deixar de receber entregas periódicas de gás se quiser manter o normal funcionamento da indústria e das centrais elétricas, bem como o fornecimento aos clientes domésticos. Ou seja, provavelmente vai afetar o custo do gás nos mercados internacionais. Em Portugal, segundo o jornal ‘Expresso’, os clientes industriais, mais expostos a essa variação de preços internacional, serão os primeiros a sofrer. Quanto aos clientes domésticos, estão salvaguardados no curto prazo – até ao final do ano, porque os maiores comercializadores garantem os preços contratados durante três meses. Sobre 2023, vai depender da evolução do mercado normal, exceto se nas próximas semanas a atividade de gás na Nigéria voltar ao normal, o impacto acabará por ser mitigado.

As cheias na Nigéria já provocaram a morte de mais de 600 pessoas e desalojaram cerca de 1,4 milhões de habitantes. Após o aviso, o Ministério do Ambiente, liderado por Duarte Cordeiro, emitiu um comunicado no qual assegurou que “não existe neste momento qualquer confirmação de redução nas entregas de gás da Nigéria. “Mesmo que tal acontecesse, não há escassez no mercado. Qualquer informação alarmista é desadequada, ainda mais em tempos de incerteza global”, indicou o ministério.

A dimensão e duração do corte de abastecimento não foram reveladas e a Galp sustentou que não recebeu elementos que lhe permitam saber o impacto desta redução no aprovisionamento de Portugal, embora tenha admitido que pode acarretar disrupções adicionais no abastecimento da Galp.

A Nigéria é atualmente o maior fornecedor de gás natural de Portugal: em 2022, 50,2% do gás consumido no país veio daquele país africano, segundo revelou a REN (Redes Energéticas Nacionais). E o sistema nacional de gás natural, que soma cerca de 1,5 milhões de clientes, é muito dependente das entregas de gás na Nigéria. A capacidade de armazenamento nacional é muito baixa, cerca de 5% do consumo anual de gás, e é necessário fluxos de entrada todas as semanas para assegurar o consumo.