Coronavírus no desporto: Conseguirão sobreviver os atuais modelos de negócio?
Com a pandemia mundial, são muitas os eventos que já foram cancelados ou adiados a nível mundial: Jogos Olímpicos, Campeonato Europeu de Futebol ou Liga dos Campeões. A isto juntam-se os torneios de ténis, as provas de automobilismo, os jogos da NBA e os campeonatos nacionais de futebol. Apesar de terem características muito diferentes, o modelo de negócio de muitos desportos está sob ameaça. A maior parte do dinheiro é feita de três maneiras: contratos de transmissão, patrocínios, receitas do dia de jogo, incluindo bilheteira e todo o tipo de merchandising. “Este é o maior desastre que atingiu o mundo desportivo em 75 anos e é o maior desafio que os nossos negócios já enfrentaram”, escreveu Simon Denyer, executivo do grupo de streaming desportivo DAZN, citado pelo Financial Times.
Neste momento, os canais desportivos tentam segurar os assinantes, os patrocinadores querem renegociar contratos e os salários dos atletas estão a ser cortados. A consultora KPMG prevê que a paragem dos campeonatos de Inglaterra, Espanha, Alemanha, França e Itália, tenham um impacto negativos de quatro mil milhões de dólares em toda a indústria desportiva.
Até mesmo os dois jogadores mais bem pagos do mundo, os futebolistas Lionel Messi e Cristiano Ronaldo, aceitaram cortes salariais. Ao mesmo tempo, os canais encontram-se com tempo de antena para encher. Em vez dos playoffs da NBA, a norte-americana ESPN tem oferecido aos espectadores conteúdo que eles não querem. Resultado? Na semana até 22 de março, a audiência do horário nobre da ESPN caiu 29% em relação à semana anterior. A atual falta de desporto expõe o modelo de negócio de empresas tradicionais que investiram milhões na busca por um ativo raro na era da Netflix: um programa que é melhor assistido ao vivo.
Em Portugal, a paragem do futebol nacional devido à pandemia covid-19 trará perdas “muito elevadas” para a indústria do futebol e os seus vários agentes, explicaram à Lusa os especialistas em direito do desporto Alfredo Silva e Daniel Sá. Segundo o professor da Escola Superior de Desporto de Rio Maior e coordenador da licenciatura de Gestão das Organizações Desportivas Alfredo Silva, as perdas para a indústria do futebol, na qual inclui “clubes, SADs, ‘media’, fornecedores de marketing, eventos, alimentação, equipamentos” e outros, são “muito elevadas”. Pelas contas do docente universitário, o “impacto global” de uma paragem de um mês, por exemplo, será “superior a 40 milhões de euros”, em números estimados a partir de uma observação do fluxo económico das SAD de Benfica, FC Porto e Sporting. Com mais de 3,5 milhões de espetadores em 2018/19, o que equivale, pelas contas de Daniel Sá, a um rendimento de 80 milhões de euros de bilheteira, na parte remanescente do campeonato, por agora suspensa, há aí a fatia “mais interessante”, uma vez que são “jogos decisivos”. Assim, estima o especialista, a perda pode chegar a “um quarto das receitas de bilheteira, que estão concentradas na fase final”.
Para fazer face a esta crise, a FIFA referiu que está a “ponderar prestar assistência à comunidade do futebol em todo o mundo”, salientando que tem uma situação económica “sólida” e que possui uma reserva financeira cerca de 1.500 milhões de euros. A organização liderada por Gianni Infantino mencionou a possível criação de um “fundo de apoio” para o futebol mundial, sendo que os detalhes sobre este auxílio “estão a ser estudados e discutidos com os membros da FIFA, federações e outros parceiros” e serão anunciados “num futuro próximo”.
Há duas semanas, provas como o Euro 2020 e a Copa América foram adiadas para 2021, enquanto várias competições nacionais e continentais estão suspensas devido à propagação do novo coronavírus. Nessa altura, a FIFA anunciou a criação de um grupo de trabalho em conjunto com as confederações de futebol continentais, para debater os efeitos da crise de saúde pública nos calendários de competições e nas transferências de jogadores. Certo é que a paralisação já trouxe baixas: o MSK Zilina, sete vezes campeão de futebol da Eslováquia, e o USA Rugby, órgão nacional deste desporto, estão entre os que declararam falência nos últimos dias.
Conheça a lista de eventos desportivos afetados pelo coronavírus
Futebol: As fases finais do Euro´2020 e da Copa América foram adiadas por um ano. As principais ligas europeias e mundiais estão suspensas, assim como as maiores provas continentais de clubes (Liga dos Campeões, Liga Europa e Taça Libertadores).
Basquetebol: a liga norte-americana (NBA) foi interrompida e os derradeiros torneios universitários da National Collegiate Athletic Association (NCAA) cancelados, tal como as principais ligas europeias e todas as provas continentais, Euroliga e Eurocup.
Andebol: os principais campeonatos europeus e todos os eventos continentais (Liga dos Campeões, Taça EHF e Challenge Cup) estão suspensos.
Atletismo: mundiais de pista coberta em Nanjing, na China, e de meia maratona em Gdynia, na Polónia, maratonas de Boston e Londres, tal como as três etapas inaugurais da Liga Mundial de Diamante, uma no Qatar e duas na China.
Automobilismo: fórmula 1, os Grandes Prémios da Austrália e do Mónaco foram anulados, enquanto as corridas no Bahrain, Vietname, China, Holanda, Espanha e Azerbaijão reagendadas para data a definir. No Mundial de Ralis, a prova no Chile foi riscada e a etapa na Argentina adiada.
Motociclismo: no MotoGP, a prova inaugural no Qatar foi cancelada, ao passo que os Grandes Prémios da Tailândia, Aragão, Américas, Argentina e Comunidade Valenciana têm novas datas.
Ciclismo: a consagrada Volta à Itália foi adiada sem data prevista, os “monumentos” Volta a Flandres, Paris-Roubaix e Liège-Bastogne-Liège devem ser remarcados, ao passo que a Milão-São Remo está cancelada.
Futsal: As principais ligas europeias e mundiais estão suspensas, assim como a ‘final four’ da Liga dos Campeões.
Ginástica: a Taça do Mundo de ginástica artística no Qatar depois de ter assistido ao cancelamento de etapas no Azerbaijão, Alemanha, Reino Unido e Japão.
Golfe: o Masters e o PGA Championship foram adiados para datas ainda não definidas, enquanto as etapas no Quénia, Índia, Malásia, China, Espanha e Dinamarca, do European Tour, estão suspensas.
Hóquei em Patins: as principais ligas europeias e mundiais estão suspensas, assim como as maiores provas continentais de clubes (Liga Europeia e Taça WSE). No gelo, a Liga norte-americana (NHL) também está parada e o Mundial feminino no Canadá foi cancelado.
Judo: a Federação Internacional suspendeu toda a actividade até 30 de Abril.
Patinagem: mundiais de velocidade em pista curta e de patinagem artística foram remarcados para data incerta.
Râguebi: torneio das seis Nações, a Taça dos Campeões e a Liga Pro14 estão suspensos por tempo indefinido, à semelhança de diversos campeonatos nacionais.
Ténis: Grand Slam francês Roland Garros. As finais da Fed Cup, os torneios norte-americanos de Indian Wells e Miami.
Ténis de Mesa: Os mundiais de equipas, os Opens de Hong Kong, Coreia do Sul e Austrália.
Tiro: a Taça do Mundo na Índia.
Vela: Mundial na classe 470.
Voleibol: ligas europeias, mundiais e continentais (Liga dos Campeões, Taça CEV e Challenge Cup) e a Liga das Nações.