Conferência pró-Putin em Moscovo junta figuras polémicas do Ocidente, incluindo o pai de Elon Musk e o conspiracionista Alex Jones
Uma conferência organizada por um oligarca russo próximo do Kremlin está a atrair atenção internacional pela presença de diversas figuras ocidentais controversas. O Fórum do Futuro 2050, que decorre esta segunda e terça-feira em Moscovo, é promovido por Konstantin Malofeev, um magnata ultranacionalista russo sob sanções ocidentais, e conta com um leque invulgar de oradores estrangeiros, incluindo Errol Musk, pai do bilionário Elon Musk, o conhecido conspiracionista norte-americano Alex Jones e o político britânico George Galloway.
Apesar de Vladimir Putin e o Kremlin não surgirem oficialmente associados ao evento, o encontro é largamente visto como uma plataforma de promoção da ideologia nacionalista russa e de tentativa de aproximação a influenciadores internacionais que possam favorecer as posições de Moscovo, especialmente junto da direita populista nos Estados Unidos.
Entre os participantes russos estão o ministro dos Negócios Estrangeiros, Sergei Lavrov, e o veterano político Sergei Mironov, conhecido por ter adotado uma criança ucraniana de dois anos retirada de um lar infantil na Ucrânia, num episódio amplamente divulgado pelos meios pró-governamentais como gesto simbólico da “reintegração” das regiões ocupadas.
O evento aborda temas como “política externa e prioridades nacionais”, “cultura e valores tradicionais”, e inclui até um painel intitulado “MAGA na Rússia”, numa alusão direta ao movimento norte-americano “Make America Great Again”, impulsionado por Donald Trump.
A presença ocidental e a estratégia russa
Para além de Errol Musk, Alex Jones e George Galloway, a conferência inclui também Jeffrey Sachs, reputado economista norte-americano, e Matthew Groves, um antigo vereador britânico de East Surrey, erradamente descrito pelos organizadores como “vice-líder de um grupo conservador”.
A organização do evento está também a cargo de Alexander Dugin, ideólogo ultranacionalista russo e figura de crescente influência desde a invasão da Ucrânia em 2022. Juntamente com Malofeev, Dugin tem trabalhado para criar redes de contactos com vozes influentes no Ocidente, sobretudo nos círculos próximos de Donald Trump, numa tentativa clara de moldar a opinião pública internacional em benefício da Rússia.
Embora não tenha sido inicialmente confirmado se os oradores internacionais iriam deslocar-se fisicamente a Moscovo ou intervir por videoconferência, Errol Musk foi já fotografado na capital russa, onde deu uma entrevista ao jornal estatal Izvestia. Nessa conversa, minimizou o conflito entre o filho Elon Musk e Donald Trump, e afirmou: “Eles têm estado sob muita tensão nos últimos cinco meses, deem-lhes uma folga. Estão muito cansados e stressados, por isso algo assim pode acontecer.”
O pai de Elon Musk acrescentou ainda: “Trump vai prevalecer — ele é o presidente, foi eleito como presidente. Portanto, acho que o Elon cometeu um erro. Mas ele está cansado, está stressado.”
Errol Musk considerou ainda que o desentendimento entre o filho e Trump “foi apenas uma pequena coisa” e que “estará resolvido amanhã”. Conhecido por declarações polémicas, o sul-africano de 79 anos já expressou anteriormente admiração por Vladimir Putin, tendo afirmado este ano, numa outra entrevista, que toda a sua família sente “um certo fascínio” pelo presidente russo.
Segundo analistas, a realização deste fórum representa mais uma tentativa de Moscovo de suavizar a sua imagem junto de sectores específicos do Ocidente, explorando fissuras políticas e culturais para legitimar a sua narrativa contra o liberalismo ocidental e o apoio à Ucrânia. O alinhamento de figuras como Alex Jones e Galloway com as mensagens pró-Kremlin sublinha a aposta do regime russo numa estratégia de influência através de meios não convencionais, procurando normalizar relações com o exterior sem mediação oficial do governo russo.
O Fórum do Futuro 2050 decorre ao longo de dois dias e será observado com atenção por diplomatas, investigadores e agências de segurança internacionais, atentos ao potencial impacto desta aproximação ideológica entre o nacionalismo russo e sectores radicais ou conspiracionistas do Ocidente.