Como um burlão realizou um dos maiores golpes da história ao vender um aeroporto imaginário por 242 milhões de dólares

Um homem conseguiu realizar um dos golpes mais espetaculares de sempre da história: conseguiu vender um aeroporto imaginário por incríveis 242 milhões de dólares.

Não faltam exemplos de esquemas incríveis ao longo dos tempos – e não se trata somente de enganar alguém a fornecer os seus dados bancários via telefone: o esquema Ponzi, de Charles Ponzi, Jordan Belfort, que inspirou o filme ‘O Lobo de Wall Street’ ou Victor Lustig, que tentou vender a Torre Eiffel. Hollywood adora este tipo de histórias e é frequente ver exemplos nas telas de cinema: com Belfort, antes tinha-se visto o filme ‘Apanha-me se fores capaz’, baseado nas fraudes de Frank William Abagnale Jr.

Existem muitos burlões por aí, mas agora um homem a tentar vender um aeroporto imaginário? Numa série de acontecimentos considerados o terceiro maior crime financeiro da história mundial, foi exatamente isso que aconteceu com Emmanuel Nwude, antigo diretor do Union Bank of Nigeria, que tentou usar as suas credenciais legítimas para obter financiamento para um aeroporto que nunca iria existir.

Para executar o seu golpe, Nwude telefonou a Nelson Sakaguchi, diretor do Banco Noroeste, no Brasil. Nwude fez-se passar por governador do Banco Central da Nigéria (CBN) na altura, Paul Ugwoma. O seu cúmplice, Ikechukwu Anajemba fez-se passar por Rasheed Gomwalk, que era o diretor de Remessas Internacionais da CBN. A mulher de Anajemba, Amaka fez-se passar por esposa de Gomwalk, completando o trio profano – Anajemba viria a falecer em 1998, quando o produto da fraude foi finalmente entregue, deixando a sua mulher ficar com a sua parte.

Juntos, o trio e uma série de cúmplices auxiliares apresentaram uma proposta ao chefe de Finanças Internacionais do Banco Noroeste Brasil, Nelson Sakaguchi. Utilizando correspondência falsa e o acesso de Nwude a documentos confidenciais e de alto nível, convenceram Sakaguchi de que o Governo nigeriano estava à procura de investidores para construir um aeroporto em Abuja, a nova capital.

Se Sakaguchi pudesse fornecer o primeiro investimento de 242 milhões de dólares, disseram, teria direito a uma comissão de 10%. Com uma pesada comissão em vista, por que não aprovaria o aeroporto? Ainda assim, sem verificação de antecedentes e sem ninguém visitar o aeroporto fictício na capital da Nigéria, Abuja, o dinheiro continuou a fluir.

Entre 1995 e 1998, Sakaguchi pagou a Emmanuel e aos seus cúmplices um total de 242 milhões de dólares sem uma única visita a um estaleiro de construção. As coisas desabaram em 1997, quando o Banco Noroeste analisava as suas despesas antes de ser comprado pelo Santander. Numa reunião conjunta do conselho de administração em 1997, um funcionário do Santander perguntou por que razão uma grande soma de dinheiro, dois quintos do valor total da Noroeste e metade do seu capital, estava nas Ilhas Caimão sem monitorização. Esta descoberta levou a extensas investigações criminais nos cinco continentes.

O efeito no Banco Noroeste foi fatal. Os proprietários tiveram de pagar do seu bolso os 242 milhões de dólares perdidos para que a compra avançasse, mas esta fuga por pouco não garantiu o seu futuro. Em 2001, o Banco Noroeste faliu.

Emmanuel e os seus cúmplices acabaram por ser enviados a tribunal em 2004, mas depois de o caso ter sido arquivado, tiveram de ser novamente presos para enfrentarem acusações noutros lugares. Declararam-se inocentes de mais de 100 acusações de fraude e suborno, o que é irónico quando Emmanuel foi mais tarde acusado de tentar subornar o chefe da comissão com 75 mil dólares depois de um dos seus cúmplices ter confessado. Só quando Sakaguchi foi trazido como testemunha é que Emmanuel finalmente confessou – condenado a 25 anos de prisão.

Nwude era, na altura em que foi capturado, um dos empresários Igbo mais ricos da Nigéria. Popularmente conhecido como Owelle de Abunuga, diz-se que Nwude era proprietário de um edifício de 10 andares no coração de Lagos. De forma consistente com a sua riqueza e luxo espalhafatoso, vivia no último andar do edifício, enquanto o andar inferior albergava um banco comercial. Cada metro de espaço entre estes dois pisos foi dedicado à sua empresa privada, a Euro-Holdings.

Dizia-se que Nwude possuía edifícios por toda a Nigéria e em cidades dos Estados Unidos. Foi também considerado um grande financiador do Partido Democrático Popular.

O caso toma um rumo ainda mais selvagem quando se olha para onde Emmanuel está agora. Foi libertado da prisão em 2006 e, argumentando que alguns dos seus bens foram adquiridos antes de o crime ser cometido, interpôs uma ação judicial bem-sucedida e já recuperou mais de 52 milhões de dólares.

Ler Mais