Como Trump perdeu os mercados em 90 dias. Únicos sobreviventes são o ouro e o “Índice do Medo”

Três meses após a sua tomada de posse, a 20 de janeiro, o regresso de Donald Trump à presidência dos EUA está a deixar um rasto de turbulência nos mercados financeiros.

A incerteza em torno das suas políticas, sobretudo as comerciais, gerou quedas generalizadas em praticamente todos os ativos — com exceção do ouro e do chamado “índice do medo”, revela o ‘El Español’.

O S&P 500 afundou 14,5% desde a véspera da posse, caindo dos 6.000 para os cerca de 5.100 pontos. O Dow Jones recuou 12,5% e o tecnológico Nasdaq Composite desvalorizou 19,7%. Desde o início do novo mandato, Wall Street registou quedas em dez das 13 semanas.

Apesar de alguns resultados positivos esperados por parte das grandes tecnológicas — as chamadas “Sete Magníficas” (Apple, Amazon, Alphabet, Meta, Microsoft, Nvidia e Tesla) — a confiança continua frágil.

Ouro brilha, dólar perde estatuto de porto seguro

Num cenário dominado pela aversão ao risco, o ouro destacou-se como o único verdadeiro refúgio. O metal precioso valorizou 24,6% desde 17 de janeiro e atingiu máximos históricos acima dos 3.400 dólares por onça. No acumulado anual, o ganho já ronda os 30%.

Em sentido contrário, o dólar perdeu força e caiu cerca de 10%. O índice do dólar, que mede a sua evolução face às principais divisas, desceu para mínimos de março de 2022. O banco suíço Julius Baer considera que “a estratégia comercial errática e a política fiscal insustentável colocaram em risco o estatuto do dólar como porto seguro”.

“Índice do medo” duplica

A volatilidade também disparou. O VIX, conhecido como o “índice do medo”, chegou a ultrapassar os 60 pontos no início de abril, após a imposição de tarifas comerciais “recíprocas” por parte de Trump. Embora tenha recuado desde então, continua perto dos 34 pontos — mais do dobro do valor registado antes da posse presidencial, revela a mesma fonte.

Europa e Ásia também ressentem impacto

O efeito dominó da instabilidade norte-americana estendeu-se a outras regiões. O Nikkei japonês caiu quase 11%, enquanto o Hang Seng de Hong Kong contrariou a tendência e subiu 9,2%. Na Europa, os principais índices registaram perdas mais moderadas, em parte devido ao reforço do investimento em defesa e alterações fiscais na Alemanha.

O Euro Stoxx 50 caiu 4,1% e o Stoxx 600 recuou 3,2%. As exceções foram o espanhol Ibex 35 (+8,4%) e o alemão Dax (+1,4%).

Criptomoedas e petróleo em queda

O impacto também se fez sentir no mercado de criptoativos. A Bitcoin desvalorizou quase 16%, enquanto a Ethereum perdeu mais de metade do seu valor (−52%). Já o petróleo viu o Brent cair 18,3% e o WTI recuar 20%.

Entre os fatores que explicam esta queda estão as previsões de abrandamento económico global e a decisão de alguns países da OPEP+ de aumentar a produção.