
Como as mulheres estão a desenvolver negócios de açaí na Amazónia
Por : Isabel Teles, Reuters
Na pequena comunidade da Ilha da Jussara, no extremo norte da Amazónia brasileira, o cultivo de bagas de açaí — um superalimento conhecido pelos seus benefícios nutricionais — é uma importante fonte de rendimento.
A produção cresceu cerca de 50% na última década, impulsionada por uma dezena de mulheres da aldeia que lutaram para garantir fontes de crédito.
«Inicialmente, os maridos cuidavam do produto, da produção», afirma Edna dos Anjos Nascimento Siqueira, conhecida como Bezinha, enquanto tira os pequenos frutos escuros dos galhos das palmeiras de açaí e os coloca numa cesta. «Depois, nós, as mulheres, começámos a mexer-nos.»
Bezinha, hoje com 60 anos, cresceu a acompanhar o pai a trepar às árvores de açaí da Ilha da Jussara para colher o fruto ácido, usado mundialmente em sumos, cosméticos e suplementos.
Foi a primeira mulher a participar em reuniões onde se discutiu o financiamento para o crescimento do negócio da aldeia.
Segundo a Emater, uma agência governamental de desenvolvimento sustentável, o envolvimento de mulheres em negócios de pequena escala cresceu rapidamente no Brasil rural.
Em 2021, quase metade do crédito rural de um programa federal supervisionado pela Emater que apoia pequenos agricultores beneficiou mulheres produtoras, explica a agência.
O investimento inicial em projectos como o do açaí da Ilha da Jussara é de cerca de 20 mil reais (3200 euros), refere Lucival Solim Chavez, agrónomo da Emater. «Depois disso, a terra é financeiramente autossustentável», sublinha.
De forma mais ampla, a produção de açaí no Brasil cresceu 15% entre 2020 e 2023, de acordo com estatísticas do governo. O estado do Pará, onde está localizada a Ilha da Jussara, é responsável por 94% da produção do país e é um dos principais exportadores da fruta para empresas de alimentos e cosméticos em todo o mundo.
Na comunidade da Ilha da Jussara, cerca de 200 pessoas dedicam-se à produção de açaí orgânico. As vendas combinadas das comunidades da região somam aproximadamente 1,37 milhões de reais (220 mil euros) anuais — mais de 85% do seu rendimento, segundo dados do governo.
Durante a colheita, as famílias da vila chegam a ganhar quatro vezes mais que o salário mínimo da região.
«Conseguimos muita coisa», realça Bezinha. «Os meus amigos que fazem parte… têm a sua própria casinha, o seu próprio fogãozinho, a sua própria casa de banho. Para nós, tem sido muito importante.»