
Comandante ucraniano alerta que exércitos da NATO não estão preparados para a guerra com drones
Vadym Sukharevskyi, chefe das Forças de Sistemas Não Tripulados da Ucrânia, sublinha que as forças da NATO não estão prontas para enfrentar ataques em massa de drones, enquanto Kyiv aposta na inovação tecnológica para manter a vantagem no campo de batalha.
Os exércitos da NATO não estão preparados para enfrentar uma guerra moderna dominada pelo uso de drones, alertou o coronel Vadym Sukharevskyi, comandante das Forças de Sistemas Não Tripulados da Ucrânia. A declaração surge ao fim de três anos de conflito com a Rússia, num momento em que ambos os lados intensificam o uso de tecnologia para obter vantagem militar.
Falando a partir do quartel-general da sua unidade – cuja localização não foi divulgada por razões de segurança –, Sukharevskyi descreveu como o uso de drones evoluiu drasticamente desde o início da invasão russa em 2022, mudando completamente as doutrinas tradicionais de guerra.
“Pelo que vejo e ouço, nenhum exército da NATO está preparado para resistir a uma ofensiva massiva de drones”, disse o comandante em entrevista à Reuters.
Sukharevskyi apelou a um maior reconhecimento, por parte da NATO, da vantagem económica dos drones, que são muito mais baratos de produzir do que os sistemas convencionais usados para os abater.
“É uma questão de matemática simples. Quanto custa um míssil para derrubar um Shahed russo? E quanto custa mobilizar um navio, um avião e um sistema de defesa aérea para o mesmo efeito?”, questionou.
Enquanto drones de longo alcance podem custar alguns milhares de dólares, os Shahed russos – de fabrico iraniano – são estimados em dezenas de milhares de dólares. No entanto, os mísseis interceptores das defesas aéreas podem custar centenas de milhares ou até milhões de dólares, e muitos países da NATO mantêm apenas estoques limitados, tornando o seu uso insustentável a longo prazo.
As declarações do comandante ucraniano surgem num momento em que vários países da NATO reforçam os seus orçamentos de defesa, antecipando possíveis repercussões do conflito caso este se prolongue ou escale. A incerteza sobre o apoio dos Estados Unidos à Ucrânia também tem levado os aliados europeus a acelerar os seus preparativos militares.
Desde o início da invasão, a Ucrânia tem apostado fortemente na produção de drones para enfrentar a superioridade numérica russa. Só em 2024, Kyiv afirmou ter produzido 2,2 milhões de drones First Person View (FPV) de pequeno porte, além de 100 mil drones de longo alcance. A Rússia, por sua vez, indicou que prevê fabricar 1,4 milhão de drones FPV no mesmo período.
“Neste momento, até o comandante-geral das Forças Armadas da Ucrânia confirma que mais de 60% dos alvos no campo de batalha são destruídos por drones”, revelou Sukharevskyi.
“A única questão é como as táticas do seu uso vão evoluir e, a partir disso, como a tecnologia irá se desenvolver.”
Evolução no campo de batalha
A guerra tem sido marcada por ataques massivos de drones russos, frequentemente superiores a cem unidades por investida. Moscovo tem combinado o uso de drones Shahed com modelos descartáveis mais baratos, usados para esgotar as reservas de mísseis defensivos da Ucrânia.
Kyiv tem recorrido a métodos alternativos para combater essa ameaça, incluindo camionetas equipadas com metralhadoras e intercetação aérea por aviões militares. Além disso, a Ucrânia tem investido no desenvolvimento de drones intercetores FPV e armas a laser para neutralizar alvos de forma mais eficiente.
Sukharevskyi revelou que a Ucrânia já conseguiu abater drones de asa fixa em testes com laser, estando agora a trabalhar para implementar sistemas laser no campo de batalha – embora sem indicar prazos.
Além disso, as forças ucranianas começaram a utilizar drones-mãe, que transportam dois drones FPV a uma distância de até 70 km antes de os libertar, funcionando ainda como estação de retransmissão de comunicações.
A presença de veículos terrestres não tripulados também tem aumentado significativamente, permitindo que menos soldados sejam enviados para áreas de elevado risco.
Inteligência artificial e a guerra eletrónica
Ambos os lados do conflito têm investido em guerra eletrónica, procurando interferir nas comunicações dos drones inimigos e torná-los inoperáveis. Como resposta, houve um boom no desenvolvimento de drones com sistemas de orientação automatizados, que utilizam inteligência artificial para atingir alvos após a seleção manual por um operador.
“A decisão de atacar deve sempre ser feita por um humano, não pela IA”, frisou Sukharevskyi.
O comandante estima que pelo menos metade das unidades de drones da linha da frente ucraniana já usem alguma forma de tecnologia autónoma, com a expectativa de que esse número continue a crescer.
Apesar do rápido avanço tecnológico, Sukharevskyi reconheceu que a Ucrânia ainda enfrenta dificuldades para suprir a procura de munições para os drones de ataque, que geralmente são fornecidas separadamente. No entanto, algumas unidades começaram a fabricar as suas próprias munições, com uma brigada a produzir entre 6.000 e 10.000 unidades por mês.
“Se não fossem os drones, a situação seria muito pior. Eles são o que nos permite dar uma resposta assimétrica quando o inimigo é maior, mais forte e está na ofensiva”, concluiu Sukharevskyi.
A guerra na Ucrânia tem demonstrado como os drones estão a transformar a forma como os conflitos modernos são travados, forçando não apenas Kyiv, mas também a NATO, a reavaliar estratégias e sistemas de defesa. No entanto, o alerta do comandante ucraniano deixa claro que, até ao momento, as forças da Aliança Atlântica não estão preparadas para enfrentar uma guerra onde os drones desempenham um papel central.
Com os avanços tecnológicos a ocorrerem a um ritmo acelerado e o campo de batalha a tornar-se cada vez mais automatizado, o futuro da guerra poderá depender não apenas da quantidade de soldados e armamento convencional, mas sobretudo da capacidade de adaptação às novas realidades da guerra digital e não tripulada.