“Com uma ogiva de 20 quilos podemos voar 700 quilómetros”: Ucrânia aposta em drones para levar a guerra diretamente ao Kremlin
A Ucrânia acredita que a chave do conflito com a Ucrânia está nos drones – os UAV (veículos aéreos não tripulados) foram implantados pela primeira vez para ajudar a artilharia a descobrir alvos russos mas agora são vistos como armas que podem atacar dentro do território russo.
Valeriy Borovyk é um dos fabricantes de drones, um das dezenas de desenvolvedores de drones que surgiram em toda a Ucrânia. Uma primeira onda apareceu quando a Rússia ocupou pela primeira vez a Crimeia e partes do Donbass em 2014, e outra oito anos depois, quando Moscovo lançou a sua invasão em grande escala.
O responsável deu o exemplo do ‘Vidsyich’, um drone furtivo, que “tem um alcance de 40 quilómetros e pode carregar uma ogiva de dois a três quilos”, explicou. “Concentramos os nossos ataques, principalmente, em equipamentos muito caros dos russos.” Borovyk sublinhou que a sua empresa está a aumentar a sua produção depois de assinar um acordo com uma fábrica na Ucrânia, que aumentaria a produção de 50 drones por mês para mais de 1.000. E têm vários modelos, de todos os formatos e tamanhos.
Esta operação é apenas uma pequena parte de uma indústria construída sobre a engenhosidade ucraniana e o instinto de sobrevivência, que o Governo e os militares do país desejam apoiar. “A cada poucas semanas, realizamos vários estudos, vemos o que está a acontecer nessa direção, procuramos novos desenvolvedores de drones, estudamos os resultados”, explica Mykhailo Fedorov, vice-primeiro-ministro e ministro da Transformação Digital. “É muito importante para nós encontrar empresas que possam escalar, olhar para novos formatos de uso, porque esta é uma guerra tecnológica.”
“Os drones estão a tornar-se cada vez mais relevantes na linha de frente porque é uma oportunidade de fazer um ataque direcionado, ajudando a estreitar o foco da artilharia”, explicou. “Portanto, precisamos de dezenas de milhares de drones todos os meses.”
Kiev lançou uma iniciativa do Governo chamada ‘Exército de Drones’, que baixou as restrições de importação e impostos para a tecnologia de drones, estimulando o desenvolvimento de uma indústria local para melhor suprir as Forças Armadas. O general Yuriy Shchyhol é o homem responsável pela aquisição de drones para os militares ucranianos, que pretende que Kiev coloque todos os tipos de UAVs em uso. “Cada tipo de drone tem uma aplicação completamente diferente”, sublinhou. “São necessários drones baratos e caros. E drones com diferentes tipos de comunicação. Quanto mais modelos tivermos, mais canais de comunicação tivermos, mais eficiente o será nosso trabalho.”
O objetivo é ter produção em massa. “Cerca de 30 empresas na Ucrânia já estão a produzir em massa esses drones, e nossa meta é comprar até 200 mil até ao final do ano”, apontou o responsável. “Até agora assinámos contratos para a compra de 2 mil. A cada semana, esse processo é ampliado.”
Quando a região de Moscovo foi alvo de drones na passada terça-feira, o Kremlin foi rápido em culpar a Ucrânia. Mas exatamente quem lançou os UAVs, de que tipo eram e de onde foram lançados permanece um mistério. Os ataques recentes a refinarias de petróleo russas e outros alvos sugerem que a Ucrânia está a desenvolver modelos que podem penetrar mais fundo no território russo, mas com cargas limitadas.
Os drones ucranianos podem chegar a Moscovo? Segundo Fedorov, houve avanços nessa frente. “Estamos a aumentar a produção de drones de longo alcance”, confessou. “Não posso comentar os detalhes das missões aqui. Mas nesse sentido também está a ocorrer uma certa revolução no escalonamento da produção.”
Muitos dos desenvolvedores de drones reconhecem que estão a trabalhar no desenvolvimento de UAVs que podem voar distâncias maiores e transportar cargas maiores: alguns já com sucesso, como o caso do Borovyk. “De 15 a 700 quilómetros, dependendo da ogiva”, diz. “Com uma [ogiva] de 20 quilos, podemos ir até Moscovo.”