Com regresso da guerra no horizonte… Hamas dá ordens a líderes para deixarem de usar telemóveis

O Hamas ordenou aos seus líderes políticos e militares que deixem de utilizar telemóveis, numa tentativa de evitar rastreamentos e eventuais ataques por parte de Israel, à medida que a frágil trégua entre as partes enfrenta o risco de colapso. A informação foi avançada esta terça-feira pelo jornal Asharq Al-Awsat, sediado em Londres, que cita fontes do grupo palestiniano. Segundo estas fontes, vários altos responsáveis já deixaram de usar telemóveis, depois de um breve regresso à sua utilização desde o início do cessar-fogo no mês passado. O receio é que os serviços de inteligência israelitas utilizem os dispositivos para localizar e eliminar alvos estratégicos dentro da organização.

O atual cessar-fogo foi estabelecido como parte de um acordo alcançado no mês passado, após 15 meses de conflito que tiveram início com os ataques do Hamas contra Israel a 7 de outubro de 2023. Naquela ofensiva, terroristas liderados pelo grupo mataram cerca de 1.200 pessoas e raptaram 251 reféns. O acordo prevê a libertação de reféns por parte do Hamas e a libertação de milhares de prisioneiros palestinianos por Israel, incluindo centenas que cumprem penas de prisão perpétua, além da suspensão das operações militares israelitas na Faixa de Gaza, seguida de negociações para alcançar uma “calma sustentável” e a eventual retirada das tropas israelitas do enclave.

Apesar de o Hamas continuar a declarar o seu compromisso com o cessar-fogo, na segunda-feira anunciou que não libertaria mais reféns “até novo aviso”, alegando que Israel estava a violar os termos do acordo. A decisão abalou ainda mais a trégua e levou Israel a iniciar preparações para uma possível retoma das operações militares.

Face à incerteza em torno da trégua, as Forças de Defesa de Israel (IDF) anunciaram esta terça-feira que estão a reforçar a presença militar no Comando Sul, mobilizando reservistas e aprovando novos planos de combate para Gaza, caso o cessar-fogo colapse. O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, deixou um aviso claro numa declaração em vídeo, após uma reunião do gabinete de segurança que durou quatro horas. “Se o Hamas não devolver os nossos reféns até ao meio-dia de sábado, o cessar-fogo terminará e as IDF retomarão os combates intensos até que o Hamas seja finalmente derrotado”, afirmou. Um alto responsável israelita confirmou ainda que Netanyahu instruiu as forças militares e de segurança a prepararem-se para qualquer cenário, caso o Hamas não cumpra a libertação dos reféns dentro do prazo estipulado.

Entretanto, fontes do Hamas citadas pelo Asharq Al-Awsat afirmaram que o grupo recentemente descobriu equipamento de espionagem alegadamente instalado por Israel entre os escombros de edifícios destruídos na Faixa de Gaza. O equipamento, segundo estas fontes, incluía câmaras ocultas e dispositivos de escuta, que teriam como objetivo identificar líderes do grupo ou localizar reféns. O Hamas terá iniciado operações de busca alargadas para encontrar e desmantelar esses dispositivos, na tentativa de recolher informações sobre os seus métodos e eventuais vulnerabilidades. Além disso, o grupo está a reforçar as suas operações de vigilância para monitorizar movimentos das forças israelitas e preparar-se para possíveis incursões de unidades especiais ou outras ações militares.

O Hamas justificou a suspensão da libertação de reféns com a alegação de que Israel não estava a cumprir compromissos essenciais do cessar-fogo. Entre as supostas violações, o grupo acusa o governo israelita de impedir o regresso de deslocados palestinianos ao norte da Faixa de Gaza e de obstruir a entrada de ajuda humanitária, incluindo contentores para alojamento temporário. Israel rejeita estas acusações e mantém que está a cumprir o acordo, acusando o Hamas de prolongar intencionalmente a crise para obter mais concessões. A situação permanece tensa, e a possibilidade de um retorno à guerra aumenta a cada dia que passa sem avanços concretos na libertação dos reféns ou na consolidação da trégua.