
Chuva intensa leva a descargas de emergência nas barragens do Algarve (e não só) e cheias no Vale do Tejo
A intensa precipitação registada nos últimos dias levou ao aumento significativo dos níveis das barragens no Algarve, obrigando a descargas de emergência em algumas albufeiras da região. Em apenas três meses, a região passou de um cenário de escassez de água para uma situação de abundância, trazendo alívio, mas também desafios para a gestão dos recursos hídricos.
Na Barragem de Odeleite, situada em Castro Marim, foi ativada esta terça-feira a sirene de alerta para a abertura das comportas, algo que não acontecia desde 2018. O aviso sonoro, que alerta a população para a necessidade de escoamento controlado, foi dado devido à necessidade de libertar água para o rio Guadiana. A Barragem do Beliche, que está ligada a Odeleite, também iniciou descargas controladas, depois de ambas terem registado uma subida de cerca de dois metros nos seus níveis de armazenamento.
Para Teresa Fernandes, porta-voz da Águas do Algarve, empresa responsável pelo abastecimento público da região, este é um momento positivo, mas que exige cautela. “É um momento feliz porque as barragens algarvias estão a ficar cheias, mas por outro lado temos de ter muita atenção porque não sabemos quando chegará o próximo período de seca”, afirmou ao Correio da Manhã.
As chuvas intensas têm provocado mudanças significativas na capacidade das barragens da região. A Barragem de Odeleite encontra-se atualmente com 94% da sua capacidade, enquanto a do Beliche atingiu 89%. A Barragem do Funcho, que regista 58%, também está a libertar água para a albufeira do Arade, que continua a um nível mais baixo, nos 20%. Já a Barragem de Odelouca, a maior do Algarve, subiu dois metros nos últimos dias, atingindo 61% da sua capacidade.
O cenário meteorológico adverso está igualmente a causar impacto no centro do país, nomeadamente no Vale do Tejo, onde se registam cheias devido às descargas preventivas das barragens portuguesas e espanholas. A depressão Martinho tem sido responsável por estas chuvas persistentes, levando à submersão de estradas e terrenos agrícolas. Em localidades como a Golegã, a força do vento tem agitado as águas do rio Tejo, e vastas áreas agrícolas encontram-se alagadas, afetando culturas como a ervilha e a batata. Os agricultores relatam atrasos no cultivo de culturas de primavera e verão, como o tomate e o milho, embora haja esperança de que o armazenamento de água agora garantido beneficie a rega nas próximas estações.
A gestão das barragens no Vale do Tejo tem sido coordenada entre Portugal e Espanha, numa estratégia de prevenção para criar espaço para novas chuvas sem comprometer a segurança das infraestruturas. As descargas controladas têm permitido evitar situações mais graves, ao mesmo tempo que se garante a disponibilidade de água para a estação seca que se avizinha.
Com a imprevisibilidade das condições meteorológicas, as autoridades alertam para a necessidade de monitorização constante dos níveis das albufeiras e para uma gestão eficiente dos recursos hídricos, tanto para prevenir cheias como para evitar futuras crises de seca.