Chumbar ou não o OE 2025? PS está dividido na questão, mas círculo próximo de Pedro Nuno Santos quer voto contra

As negociações sobre o Orçamento do Estado para 2025 estão a causar uma profunda divisão dentro do Partido Socialista (PS), com a liderança do partido a enfrentar uma difícil decisão nos próximos dias. O processo negocial entre o Governo e o PS continua bloqueado, com posições divergentes tanto entre os deputados socialistas quanto em relação à proposta apresentada pela Aliança Democrática (AD) liderada por Luís Montenegro.

Pedro Nuno Santos, secretário-geral do PS, entrou para a reunião com os deputados socialistas enquanto Luís Montenegro ainda estava em direto numa entrevista à SIC, onde afirmou ter fechado o Orçamento sem o acordo do PS. Pedro Nuno confirmou, momentos depois, que ainda não tinha dado o seu aval à proposta, sublinhando que só tomaria uma decisão final depois de ver o documento. No entanto, a tensão interna no partido é evidente, com a bancada socialista profundamente dividida entre os que defendem a viabilização e os que apoiam o voto contra o Orçamento.

A reunião da bancada parlamentar socialista prolongou-se até depois das três da manhã, num debate que durou mais de cinco horas, sem que se chegasse a uma conclusão definitiva. Alexandra Leitão, líder parlamentar do PS, foi a porta-voz da reunião, descrevendo o debate como “construtivo, muito franco e muito útil”. Leitão garantiu que, apesar das divergências, a reunião “confluiu numa grande confiança na decisão do secretário-geral” e que a entrevista de Luís Montenegro “não altera ou condiciona o debate interno do PS”.

Durante a sua intervenção inicial, Pedro Nuno Santos fez uma revisão do processo negocial, explicando, em particular, a recusa do PS em ir além de uma redução de um ponto percentual no IRC para 2025. Para o PS, é essencial que a descida do IRC não ultrapasse esse valor, e, para tal, esperam que o Governo se comprometa formalmente. Contudo, tal compromisso ainda não foi alcançado, deixando as negociações num impasse.

A reunião foi marcada por intervenções fortes e críticas à estratégia do partido. Fernando Medina, ex-ministro das Finanças, foi um dos que mais pressionou o secretário-geral para uma decisão rápida, afirmando que eleições antecipadas seriam prejudiciais para o PS. Esta posição foi acompanhada por outros deputados, como Sérgio Sousa Pinto, que defendeu veementemente que o PS deveria viabilizar o Orçamento para evitar que o Chega ganhe protagonismo. Sousa Pinto afirmou que seria “um crime” deixar o partido de André Ventura viabilizar o Orçamento, sugerindo que o PS deveria assumir um papel mais decisivo.

Pedro Nuno Santos não escondeu a sua irritação com a intervenção de Sousa Pinto, elevando o tom de voz e assegurando que o Chega não condiciona a posição do PS. O líder socialista reafirmou o seu orgulho nas convicções do partido, respondendo a uma crítica de Sousa Pinto, que disse estar “farto de convicções”, numa referência a uma frase recente de Pedro Nuno Santos sobre preferir eleições a “abdicar de convicções”.

Apesar dos apelos à viabilização, um número significativo de deputados socialistas, particularmente os mais próximos de Pedro Nuno Santos, manifestou-se contra o Orçamento, noticia o Observador. Isabel Moreira e Joana Lima foram algumas das vozes que defenderam o voto contra, argumentando que o PS já tinha feito o suficiente para manter o Chega afastado em momentos cruciais, como a eleição de José Pedro Aguiar-Branco como Presidente da Assembleia da República.

Para estes deputados, viabilizar o Orçamento poderia colocar em risco a “autonomia estratégica” do PS, comprometendo a sua capacidade de se diferenciar do PSD. Por outro lado, a postura do PSD nas últimas semanas, particularmente no debate sobre o IRC, foi vista como desrespeitosa, com vários deputados a expressarem frustração pela forma como o partido de Pedro Nuno Santos foi tratado nas negociações.

Outro argumento levantado pelo setor contrário à viabilização foi o risco de o Chega ganhar ainda mais protagonismo caso o PS se alie ao PSD neste processo. Pedro Nuno Santos fez questão de alertar para os perigos de um cenário em que o Chega se torne a principal força de oposição, utilizando o exemplo da erosão do Partido Socialista francês perante a ascensão de movimentos populistas de direita em França.

A esta altura, a reunião já durava cerca de duas horas quando outras vozes começaram a alinhar-se na defesa do voto contra, incluindo João Paulo Correia, Marina Gonçalves, Tiago Barbosa Ribeiro e João Torres, todos membros próximos de Pedro Nuno Santos. Estes deputados sublinharam a necessidade de o PS manter as suas linhas vermelhas e não ceder à pressão para evitar novas eleições.

Apesar das intensas discussões internas, a decisão final sobre a posição do PS em relação ao Orçamento do Estado para 2025 está nas mãos de Pedro Nuno Santos. O líder do PS já garantiu que a sua prioridade não é convocar eleições antecipadas, mas afirmou que a decisão sobre o Orçamento não será condicionada pela perspetiva de uma crise política ou pela pressão do Chega.

Antes de tomar uma decisão definitiva, Pedro Nuno Santos reunirá a Comissão Política Nacional do partido, que o mandatou em julho para negociar o Orçamento. Contudo, uma coisa é certa: a decisão final só será tomada após a apresentação formal da proposta de Orçamento do Estado pelo Governo, que continua a ser aguardada com expectativa.

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