China pode sufocar o fornecimento de medicamentos da UE, alertam especialistas

Um conflito entre a China e Taiwan – e por arrasto, diversos outros países, incluindo os Estados Unidos – pode ter um efeito catastrófico no fornecimento de medicamentos vitais da China para a Europa, alertaram esta sexta-feira diversos grupos farmacêuticos.

“Uma crise em Taiwan pode causar escassez total de alguns medicamentos”, revelou Roberta Pizzocaro, presidente da Olon, empresa com sede em Milão que fabrica cerca de 300 ingredientes farmacêuticos diferentes que entram em medicamentos acabados. “Seria uma situação dramática.”

Um possível envolvimento da Europa num hipotético conflito está em aberto mas é improvável que as cadeias de abastecimento permaneçam ilesas – o Estreito de Taiwan, com 180 quilómetros de largura, que separa Taiwan e China, é uma das rotas marítimas mais movimentadas do mundo e uma rota de transporte de medicamentos e insumos farmacêuticos.

“Se a China atacar Taiwan e nós sancionássemos como fizemos com a Rússia, o mercado farmacêutico seria virado de cabeça para baixo”, sustentou Gian Paolo Negrisoli, presidente-executivo da farmacêutica Flamma Group. “Toda a gente sabe disso. Não temos muitas alternativas.”

A China tornou-se uma potência farmacêutica nos últimos 20 anos, já que a regulamentação ambiental mais frouxa, mão de obra barata e economias de escala permitiram que dominasse a produção, o que lhe dá vantagem sobre os seus rivais europeus. É uma grande produtora de medicamentos antigos genéricos, usados de forma rotineira nos hospitais. Por exemplo, os antibióticos tornaram-se cada vez mais terceirizados para a Ásia, com o domínio da China, que também domina o mercado dos principais ingredientes usados no fabrico de penicilina. É também um player importantes em medicamentos para a tensão arterial ou analgésicos.

A Europa produz agora apenas um quarto dos ingredientes farmacêuticos ativos do mundo, abaixo da metade em 2000, e depende cada vez mais de importações. Já a China e Índia, por sua vez, produzem mais da metade. O estudo conduzido pela empresa de pesquisa de mercado IQVIA para o ‘European Fine Chemicals Group’ estimou que, em peso, a Europa depende da Ásia para três quartos dos seus ingredientes farmacêuticos e precursores químicos – sendo a China responsável pela maior parte (70%).

Muitas empresas do setor procuram diversificar a produção mas tem-se revelado impossível: muitos ingredientes farmacêuticos agora são produzidos apenas na Ásia e alguns exclusivamente na China, garantiu Pizzocaro.

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