China levanta sanções a eurodeputados, mas mantém ‘castigo’ a outras figuras europeias
A China decidiu levantar as sanções impostas a membros do Parlamento Europeu e à respetiva subcomissão de Direitos Humanos, anunciou esta quarta-feira a presidente da assembleia, Roberta Metsola. A medida surge num momento em que Pequim procura reforçar os laços económicos e políticos com a Europa, numa tentativa de atenuar o impacto das tarifas aplicadas pelos Estados Unidos à maioria das exportações chinesas.
As sanções agora suspensas tinham sido implementadas por Pequim em 2021, em retaliação contra medidas ocidentais dirigidas a altos responsáveis chineses, acusados de estarem envolvidos na detenção em massa de muçulmanos uigures na região de Xinjiang. Entre os sancionados encontravam-se quatro eurodeputados no ativo, num total de dez indivíduos visados pelas restrições.
“Ao nível das nossas comissões parlamentares, é fundamental podermos discutir os interesses europeus com os nossos homólogos chineses sem receio de represálias”, afirmou Metsola em comunicado. Sublinhando a natureza complexa da relação com a China, a presidente do Parlamento Europeu defendeu que “o melhor caminho a seguir é o do envolvimento e do diálogo”.
As sanções impostas por Pequim proibiam os visados, assim como os seus familiares, de viajar para a China, além de vedarem a possibilidade de colaborarem com entidades chinesas ou realizarem negócios no país. Em resposta, o Parlamento Europeu suspendeu a ratificação do Acordo Abrangente de Investimento UE-China, um pacto que visava proporcionar às empresas europeias um acesso mais equitativo ao mercado chinês.
Em Pequim, questionado esta quarta-feira sobre a eventual decisão de levantamento das sanções, o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, Guo Jiakun, confirmou a abertura de portas a um novo ciclo de cooperação. “A cooperação económica e comercial entre a China e a Europa é complementar e mutuamente benéfica”, declarou. Guo sublinhou ainda a importância das instituições legislativas no relacionamento bilateral e expressou esperança de que “ambas as partes se encontrem a meio do caminho e reforcem os intercâmbios”. O responsável acrescentou que “os membros do Parlamento Europeu são bem-vindos para visitar a China com maior frequência”.
Apesar da decisão, nem todos os sancionados foram abrangidos. Reinhard Bütikofer, antigo eurodeputado alemão do Partido Verde e uma das figuras incluídas na lista de sanções de 2021, continua impedido de entrar na China. Bütikofer congratulou os antigos colegas pela suspensão das sanções, mas lamentou que os líderes parlamentares europeus não tenham feito mais para pressionar Pequim a levantar também as restrições ainda em vigor sobre outras seis figuras da política, da sociedade civil e de centros de investigação europeus.
A decisão parcial de Pequim é interpretada como um gesto estratégico num contexto de tensões comerciais com Washington e crescente escrutínio europeu sobre o papel da China no cenário geopolítico global. A normalização total das relações entre o Parlamento Europeu e as autoridades chinesas, no entanto, permanece condicionada à eliminação completa das sanções remanescentes.