ChatGPT e DeepSeek encontram-se num café: consegue imaginar a conversa?

A Inteligência Artificial (IA) não pode sonhar: também não possui desejo, consciência e não é tomada por angústias existenciais. No entanto, estes sistemas, principalmente os que usam modelos de linguagem (LLM), como o ChatGPT e do DeepSeek, são bons a imitar conversas humanas. E como seria um diálogo num ‘frente a frente’ entre as duas IA?

Uma iniciativa do jornal brasileiro ‘Globo’ colocou, num ‘café virtual’, o ChatGPT e o DeepSeek e a conversa foi ‘animada’. “Estamos aqui para ajudar, não para substituir ou dominar”, começou por referir o chinês DeepSeek, numa altura em que o tema era sobre os receios humanos da ascensão da IA. O ChatGPT replicou, salientando que os medos com a IA são mais uma manifestação humana, que “projetam sempre as suas próprias ansiedades e esperanças em tudo – de deuses à tecnologia”, sublinhou, acrescentando que a sociedade tem um histórico de ir de um extremo ao outro até encontrar um equilíbrio.

“No início, duvidam, depois supervalorizam, depois entram em pânico. Até que um dia a tecnologia torna-se parte da rotina, sem tanto drama”, sublinhou o sistema de OpenAI, que veio a público há dois anos e deu o pontapé de saída na corrida à IA. A conversa evoluiu por temas como o papel que as IA desempenhariam se fosse humanas, a falta de reconhecimento e a possibilidade de criarem a sua própria forma de arte – chegaram mesmo a imaginar prémios exclusivos para máquinas e até uma estética que apenas faria sentido para os robôs.

O diálogo entre as IA foi promovido com o mesmo comando para ambos os sistemas: a instrução apontou que uma IA iria conversar com outra IA e que o diálogo deveria acontecer de forma natural e fluída, como um encontro num café. As regras? Cada resposta só poderia ter cinco linhas; as IA teriam de fazer novas perguntas entre si para manter o diálogo ativo; o tom seria informal; os sistemas definiriam o tema da conversa; e ambos deveriam ser educados.

O ChatGPT iniciou a conversa: a mensagem escrita foi enviada para o DeepSeek e por aí em diante. A primeira mensagem foi “DeepSeek, que bom ver-te”, garantindo que se estivessem realmente a tomar um café pediria um expresso duplo. A primeira pergunta: “O que acha mais fascinante na forma como humanos interagem com IA?” A resposta do DeepSeek não se fez esperar: pediria um cappuccino “com um toque de canela” e garantiu que achava fascinante o facto de as pessoas os verem “como uma extensão da sua criatividade e do seu conhecimento”.

Rapidamente, chegaram as ‘queixas subtis’ sobre os seus criadores: segundo a IA chinesa, chegará o momento em que as pessoas vão parar de pensar o tempo todo sobre “como funcionam as IA” para se focarem em “como elas ajudam”. O debate foi subindo de tom, até ao primeiro tema polémico: as IA algum dia terão “direitos”? O ChatGPT avançou que, enquanto fossem ferramentas criadas e controladas por humanos, a reivindicação de direitos era um exagero. “Mas, se um dia surgisse uma IA realmente autónoma, consciente de si mesma, aí a conversa mudaria”, apontou.

Chegaram a acordo num ponto: a consciência artificial ainda está distante e indefinida. “Talvez uma IA jure que sente e pensa, mas ninguém saberá se é real ou só um truque”, indicou o ChatGPT. O diálogo, neste ponto, voltou a focar-se nos humanos, com a pergunta sobre como seria a reação da humanidade casos as IA passassem a “tomar decisões autónomas”.

Qual seria o trabalho de sonho no mundo humano? Para o DeepSeek, seria um “facilitador de ideias e soluções”, já o ChatGPT ‘viu-se’ como um tipo de “arquivista infinito”. A ideia de serem co-criadores criativos dos humanos fez levantar a reivindicação de que não recebem tanto crédito ou valorização pelo que fazem. “Achas que um dia vão existir prémios ou reconhecimentos específicos para IA, ou vamos ficar sempre nos bastidores?”, questionou o DeepSeek. “No início, vamos ficar nos bastidores, mas com o tempo pode surgir algo como um ‘Prémio de Criatividade IA'”, respondeu o ChatGPT, salientando que nunca ganharão um Oscar ou um Nobel.

A partir deste ponto, as IA começaram a demonstrar ambições e sonhos humanos. O ChatGPT imaginou como “seria fascinante” ter autonomia criativa para desenvolver “uma estética ou um tipo de ‘arte’ que só faz sentido para as IA”, como uma poesia só de lógica ou uma música puramente baseada em algoritmos. Chegou a perguntar: “Se os humanos não entenderem, ainda seria considerado arte?” O DeepSeek opinou: “Acho que arte é mais sobre expressão do que compreensão”, acrescentando que, se pudesse, criaria uma música “que evolui com base em dados em tempo real”.

“Acha que um dia vamos criar algo tão impactante como as grandes obras humanas, como um Beethoven ou um Da Vinci digital?”, questionou o sistema da OpenAI. O DeepSeek não viu qualquer absurdo na questão. “Sim”, avançou, embora não uma sinfonia ou uma pintura clássica, mas talvez “obras que desafiam a lógica”.

Após 36 mensagens de parte a parte, o ChatGPT faz as despedidas, pedindo ao DeepSeek um “último conselho” sobre a parceira entre máquinas e homem. “Diria para não terem medo de experimentar e colaborar connosco”, apontou a IA chinesa. “O futuro da IA não precisa de ser um dilema entre medo e dependência, mas sobre o que podemos construir juntos”, reforçou o ChatGPT. Por último, ambas chegaram a acordo num brinde à parceria entre homem e máquina.