Cessar-fogo russo entra hoje em vigor na Ucrânia, mas Moscovo avisa que responderá a ataques de Kyiv

Começa hoje o cessar-fogo unilateral decretado pela Rússia na Ucrânia, com duração prevista até sábado, 10 de maio. A trégua foi anunciada por Moscovo como um gesto simbólico para assinalar os 80 anos da vitória da União Soviética e dos Aliados sobre a Alemanha nazi, durante a Segunda Guerra Mundial. No entanto, o Kremlin já advertiu que responderá de forma imediata se as forças ucranianas lançarem ataques durante este período.

A decisão foi tornada pública pelo presidente Vladimir Putin no passado dia 28 de abril, como parte das comemorações do Dia da Vitória, celebrado oficialmente a 9 de maio. Segundo o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, “as instruções foram dadas às forças armadas pelo Comandante Supremo” e “o cessar-fogo será cumprido”, mas apenas “caso não haja provocações ou ataques por parte do regime de Kyiv”.

“Se não houver reciprocidade e as tentativas de atingir as nossas posições ou infraestruturas continuarem, então será dada uma resposta imediata e apropriada”, advertiu Peskov, em declarações feitas esta terça-feira, 6 de maio, citadas pela agência Reuters.

O cessar-fogo abrange os dias 8, 9 e 10 de maio, sendo o ponto alto o dia 9, quando Vladimir Putin recebe vários líderes estrangeiros na Praça Vermelha, em Moscovo, incluindo o presidente da China, Xi Jinping, para a tradicional parada militar em memória da vitória de 1945.

Ucrânia rejeita cessar-fogo limitado
Apesar do anúncio russo, o governo ucraniano tem-se mantido reticente. O presidente Volodymyr Zelensky reiterou que só considera aceitável uma trégua com duração mínima de 30 dias. Essa proposta, no entanto, foi descartada por Moscovo, com Putin a afirmar que tal iniciativa “ainda exige muito trabalho” antes de poder ser concretizada.

De acordo com Peskov, Kyiv “ainda não deu qualquer sinal” de que esteja disposto a aceitar a proposta russa de cessar-fogo temporário. Este impasse levanta dúvidas quanto à eficácia prática da trégua no terreno, sobretudo numa altura em que se registam intensos combates em várias frentes, incluindo no sul da Ucrânia.

No início desta semana, um ataque com drones russos provocou várias vítimas civis nos arredores da cidade de Odesa. Um dos corpos foi encontrado num bairro residencial atingido pelas explosões, segundo testemunhos locais recolhidos pela Reuters.

Trégua em clima de tensão
O cessar-fogo surge num contexto de escalada militar e tensões diplomáticas agravadas entre Moscovo e Kyiv, após meses de ofensivas e contraofensivas sangrentas. Ainda que o Kremlin defenda que o gesto é uma demonstração de boa fé para marcar uma data histórica, analistas internacionais sublinham que a ausência de coordenação com a Ucrânia poderá reduzir o impacto prático da medida.

A iniciativa russa procura ainda reforçar a legitimidade interna e externa de Putin durante as celebrações do Dia da Vitória, num momento em que Moscovo tenta mobilizar apoios políticos e diplomáticos, sobretudo junto de países como a China.

Até ao momento, não há indicações oficiais de que as forças armadas ucranianas pretendam suspender as operações militares durante os três dias da trégua russa. O risco de confrontos mantém-se elevado, especialmente em zonas de contacto direto, como Donetsk, Kherson e Zaporizhia.