
Cessar-fogo à beira do colapso? Israel e Hamas preparam-se para voltar à guerra
Israel está prestes a retomar a sua campanha militar em Gaza, à medida que as tensões com o Hamas aumentam devido à suspensão da libertação de reféns e a acusações mútuas de violações do cessar-fogo.
O grupo palestiniano anunciou que não prosseguirá com a libertação dos reféns israelitas, alegando que Israel não cumpriu os termos do acordo de cessar-fogo. Em resposta, as autoridades israelitas avisaram que, caso o entendimento colapse, as operações militares serão retomadas imediatamente. A comunidade internacional tem intensificado os apelos à contenção, com as Nações Unidas a instarem ambas as partes a evitarem um regresso às hostilidades.
Entretanto, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, lançou um ultimato: se todos os reféns israelitas não forem libertados até ao meio-dia de sábado, proporá o cancelamento do cessar-fogo e uma intensificação da guerra.
Cessar-fogo em risco
O frágil cessar-fogo em Gaza permitiu, até agora, a entrega de ajuda humanitária e a troca de prisioneiros entre as partes. No entanto, com as negociações à beira do colapso, cresce o risco de um regresso à violência em larga escala, o que poderá agravar ainda mais a instabilidade na região.
O Hamas acusou Israel de ter violado o cessar-fogo ao realizar ataques aéreos contra refugiados, atrasar o regresso de deslocados palestinianos ao norte de Gaza e restringir a entrada de ajuda humanitária. Por isso, o grupo suspendeu a libertação de reféns que estava prevista para sábado, 15 de fevereiro.
As autoridades israelitas rejeitaram as acusações e consideraram a decisão do Hamas uma quebra do acordo. Após o anúncio da suspensão, o exército israelita elevou o seu estado de prontidão, com o ministro da Defesa, Israel Katz, a declarar que o país está preparado para regressar à guerra “de imediato” caso os reféns não sejam libertados.
Netanyahu sob pressão
O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, enfrenta uma crescente pressão política e social devido à estagnação das negociações para a libertação dos reféns. O Hamas não poupou críticas ao líder israelita, afirmando que a sua busca por uma “vitória absoluta” acabou por se tornar em “ilusões desfeitas para sempre no solo abençoado de Gaza”.
O governo israelita encontra-se reunido de emergência para decidir os próximos passos, enquanto a tensão continua a aumentar.
Trump lança ultimato
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, adotou uma posição dura e afirmou que, se o Hamas não libertar todos os reféns até ao meio-dia de sábado, Israel deverá abandonar o cessar-fogo e retomar as operações militares.
Trump causou ainda mais polémica ao reafirmar a sua posição de que os palestinianos de Gaza não terão direito ao retorno no âmbito do plano de envolvimento dos EUA no território. Estas declarações provocaram uma forte reação de países árabes e da liderança palestiniana, que o acusam de tentar apagar as reivindicações históricas dos palestinianos sobre a sua terra.
O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, apelou à contenção, escrevendo na rede social X: “Devemos evitar a todo o custo o reinício das hostilidades e da violência em Gaza, pois isso levaria a uma tragédia de grande escala.”
O ministro da Defesa israelita, Israel Katz, foi categórico: “O adiamento da libertação dos reféns pelo Hamas é uma violação completa do acordo de cessar-fogo.”
Já o Hamas manteve a porta aberta para uma possível solução, afirmando que “a troca de reféns poderá prosseguir conforme o planeado se Israel cumprir as suas obrigações”.
O especialista em relações do Médio Oriente, Gershon Baskin, da organização ICO International Communities Organisation, sublinhou que tanto Israel como o Hamas falharam no cumprimento do acordo. “As violações do cessar-fogo vêm de ambas as partes. Este foi um mau acordo quando foi proposto por Biden em maio de 2024 e continua a sê-lo agora”, disse. Baskin acrescentou que cabe aos mediadores, principalmente aos Estados Unidos, garantir que ambas as partes honrem os compromissos assumidos, defendendo que “o acordo deve ser acelerado para garantir a rápida libertação de todos os reféns, bem como dos prisioneiros palestinianos incluídos na troca”.
O que esperar nos próximos dias?
Com o cessar-fogo prestes a ruir, todas as atenções estão voltadas para a decisão do gabinete de segurança israelita sobre uma possível ação militar. Caso o Hamas mantenha a suspensão da libertação dos reféns, Israel poderá avançar para uma nova ofensiva, o que agravaria ainda mais a crise humanitária já severa na Faixa de Gaza.