Cavaco Silva defende papel estratégico da adesão à União Europeia e apela a novo impulso no projeto europeu

Quarenta anos após a adesão de Portugal e Espanha à então Comunidade Económica Europeia, o antigo Presidente da República e ex-primeiro-ministro Aníbal Cavaco Silva destacou, num texto publicado no Diário de Notícias, o impacto decisivo desse momento na consolidação da democracia portuguesa e na modernização económica do país.

A integração permitiu acesso a fundos comunitários, atraiu investimento estrangeiro e impulsionou reformas estruturais que, segundo o antigo governante, foram essenciais para o crescimento económico e social da década seguinte.

Cavaco Silva sublinhou ainda o papel fundamental da liderança europeia da época — com Jacques Delors e o chanceler Helmut Kohl — na criação do pilar da coesão económica e social, elemento central para o sucesso da integração dos países do sul da Europa.

No caso português, além dos fundos estruturais, foram implementadas reformas como a revisão constitucional de 1989, a liberalização do setor financeiro e a privatização de empresas nacionalizadas, que ajudaram a preparar o país para enfrentar a concorrência no mercado único.

A adesão simultânea de Portugal e Espanha, a 1 de janeiro de 1986, permitiu também um estreitamento sem precedentes nas relações políticas e económicas entre os dois países. Cavaco Silva recorda que a vizinhança geográfica não se refletia, até então, nos fluxos comerciais e de investimento, situação que se alterou rapidamente com a eliminação de barreiras alfandegárias e a realização de cimeiras bilaterais anuais. Hoje, Espanha é o principal parceiro comercial de Portugal, e as empresas de ambos os lados da fronteira mantêm estreita colaboração internacional.

No olhar para o futuro, Cavaco Silva defendeu a necessidade de aprofundar a União Económica e Monetária, concluir a união bancária e reforçar a capacidade orçamental da UE. Face a desafios como a defesa europeia, a transição tecnológica e a crescente competição global, o antigo presidente apela a uma frente europeísta firme contra o populismo e a euroceticismo, reafirmando a importância estratégica de uma Europa forte, coesa e ambiciosa.