
Casal perde casa devido a dívidas da filha assassinada pelo companheiro em Sesimbra
Uma tragédia sem fim. Rosa e Aristides Santos, de 71 e 74 anos, enfrentam agora a perda da casa onde viveram durante toda a vida, após terem sido fiadores da filha, Rute, assassinada pelo companheiro em Sesimbra. O casal, que já tinha quitado a sua habitação antes da reforma, recebeu uma ordem de despejo devido a uma dívida bancária contraída pela filha, que deixou de pagar o empréstimo da sua própria casa. Determinado a evitar que os pais fiquem sem teto, Nélson Santos, filho mais velho do casal, lançou uma campanha de recolha de fundos para readquirir a habitação.
Segundo Nélson Santos, de 49 anos, Rute, que tinha 45 anos e uma filha adolescente, mudou-se para a casa dos pais após a separação do primeiro companheiro. “Sugerimos que entregasse a casa ao banco ou a vendesse, já que não estava a ser utilizada, mas ela dizia sempre que estava a tratar do assunto”, recorda ao Jornal de Notícias. No entanto, a realidade era diferente: Rute acumulava uma dívida de cerca de 250 mil euros, incluindo valores em atraso nas Finanças por falta de pagamento do IMI. Quando Nélson consultou a documentação dos pais, encontrou cartas de agentes de execução notificando a penhora da casa. “Os meus pais acreditaram quando a Rute lhes disse que era um erro e que a advogada estava a resolver”, lamenta.
O choque da perda da filha e da neta, Maria, de 17 anos, assassinadas a 30 de janeiro pelo companheiro de Rute, já era devastador. Rosa Santos, que presenciou os corpos da filha e da neta, desmaiou e precisou de receber tratamento hospitalar. Com uma saúde frágil, desmaiou três vezes ao saber que também iriam perder a casa. “Eles passaram a vida inteira a trabalhar para pagar a habitação e estavam imensamente orgulhosos por tê-la quitado antes da reforma”, relata Nélson. Rosa trabalhou como contínua numa escola e acumulava funções de limpeza em cafés e fabrico de bolos.
Perante a situação, a neta Beatriz propôs organizar uma angariação de fundos online. A mobilização comunitária tem sido impressionante: já foram arrecadados 28 mil euros através de rifas, aulas de ioga, jogos de futebol, bailes de Carnaval e concertos. “O meu pai foi porteiro e a minha mãe, contínua numa escola. Conheceram várias gerações de crianças, que hoje são adultos, e que estão a ajudar”, explica Nélson. Na segunda-feira, deslocou-se à imobiliária para assinar o contrato-promessa de compra e venda, dando um sinal de 16.500 euros. “Ganhei quatro meses para pagar os 148.500 euros em falta”, afirma, com esperança de que Rosa e Aristides possam recuperar a tranquilidade.
A tragédia que abalou esta família começou quando José Januário, de 43 anos, que mantinha uma relação de 14 anos com Rute, sofreu uma mudança drástica de comportamento. “Nos últimos dois anos recusava-se a aceitar que tinha um problema. Não dormia, não tomava a medicação e perdeu 20 kg”, descreve Nélson. O crime ocorreu durante uma discussão com Maria, enteada de José, que estava a jogar online. A jovem, descrita pela Escola Secundária de Sampaio como “afetuosa e dedicada”, foi atacada com vários golpes de faca. Rute morreu após ser atingida no coração. José suicidou-se de seguida.
A filha mais nova de Rute, Constança, de 16 meses, sobreviveu e está agora ao cuidado dos avós paternos. No prédio em Almoinha, Sesimbra, nenhum vizinho se apercebeu do crime. Aristides, pai de Rute, foi alertado pelo genro e, ao chegar ao local, encontrou os três corpos. O caso continua sob investigação, mas para Rosa e Aristides, o maior desafio é agora reconstruir o que resta das suas vidas.