Canal do Panamá está a ficar sem água: consequências para o comércio mundial já se começam a sentir

O comércio mundial prepara-se para um possível teste de stress, sendo que desta feita não é provocado por uma pandemia ou um conflito: agora é o clima extremo o responsável. Uma seca severa ao redor do Canal do Panamá está a forçar os navios porta-contentores a aliviar as suas cargas, segundo noticiou a agência ‘Bloomberg’, o que reduz a capacidade disponível para transportar mercadorias, aumentar o risco de atrasos e a gerar sobretaxas pagas pelos proprietários das mercadorias transportadas.

No entanto, a crise está muito longe: ou melhor, o pior ainda por estar por vir. Se a situação se deteriorar e os níveis do lago Gatún caírem conforme previsto, a reação do mercado será um aumento nos custos de embarque/fretes e uma corrida dos embarcadores para encontrar rotas mais rápidas, segundo garantiram os analistas. Isto numa altura em que o comércio internacional já enfrenta uma situação delicada, fruto da desaceleração do próprio ciclo económico.

Mas qual a influência do lago Gatún? É responsável pela água que permite o funcionamento desta artéria vital para o comércio mundial. Tudo gira em torno do grande lago, um extenso corpo de água artificial no Panamá, que permite o trânsito dos navios ao longo dos 33 quilómetros do istmo.

Este lago foi criado entre 1903 e 1913 pela barragem de Gatún, que reteve o rio Chagres. Na época, detinha o título de maior lago artificial do mundo. Com uma área de 436 km² e uma elevação de 26 metros acima do nível do mar, a sua formação transformou muitas montanhas em ilhas, sendo a Ilha de Barro Colorado, sede do Smithsonian Tropical Research Institute, uma das mais destacadas.

O lago Gatún cumpre uma função de reserva para o funcionamento das eclusas do canal, já que cada trânsito requer aproximadamente 202.000 m³ de água. No entanto, a falta de chuva está a expor parte dessas montanhas e a colocar em risco o comércio internacional.

“O padrão continua a ser de chuvas abaixo do normal no Panamá no futuro previsível”, sublinhou Jon Davis, meteorologista-chefe da Everstream Analytics. “Como resultado, esperamos que os níveis do lago caiam e o impacto no transporte marítimo pelo canal piore.”

Para o chefe da Vespucci Maritime, Lars Jensen, há duas alternativas principais para os embarcadores caso o Panamá fique muito congestionado: ir diretamente da Ásia para a costa oeste dos Estados Unidos ou transportar mercadorias da Ásia para a costa leste através do Canal de Suez. “De qualquer forma, isso vai criar alguma pressão ascendente nas tarifas de frete transpacífico”, referiu Jensen. O redirecionamento da carga da costa leste através de Suez em vez do Panamá acrescentaria uma semana extra de tempo de trânsito, alertou Peter Sand, analista-chefe da Xeneta AS, em Copenhaga.