
Canadianos vão hoje a votos: quem são os candidatos a primeiro-ministro e o que está em jogo
Hoje o Canadá vai a eleições federais para decidir quem irá formar o próximo governo do país. Mark Carney, líder do Partido Liberal, e Pierre Poilievre, do Partido Conservador, são os principais candidatos à vitória. As eleições, convocadas antecipadamente por Carney, acontecem num momento de grande tensão económica e diplomática, particularmente com os Estados Unidos, o que tem gerado um clima de incerteza para o futuro do Canadá.
Mark Carney, ex-governador do Banco do Reino Unido e do Banco do Canadá, tomou posse como primeiro-ministro em março de 2025, após a demissão de Justin Trudeau. A sua chegada ao cargo aconteceu num contexto de crescente pressão económica e diplomática, particularmente após as ameaças de Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, de impor tarifas severas ao Canadá e até sugerir que o país poderia tornar-se o 51.º estado norte-americano.
No sistema parlamentar canadiano, as eleições ocorrem de forma regular a cada quatro anos, mas Carney, que não tinha sido eleito pelos cidadãos nem possuía assento na Câmara dos Comuns, optou por convocar eleições antecipadas. A decisão de chamar os canadianos às urnas foi motivada pela necessidade de obter um mandato legítimo e de responder aos desafios económicos internos e à crescente pressão externa.
Como funciona o sistema eleitoral canadiano?
O sistema eleitoral do Canadá é baseado no modelo “first-past-the-post” (o mais votado ganha), onde os eleitores votam em candidatos para os seus círculos eleitorais, sem a necessidade de obter uma maioria absoluta, apenas o maior número de votos. O país é dividido em 343 círculos eleitorais, e o partido que eleger o maior número de deputados forma o governo e o seu líder torna-se primeiro-ministro. Caso um partido consiga mais de 172 lugares, terá uma maioria absoluta, mas, se obtiver menos, terá que formar alianças para governar.
Nas eleições de hoje, o Partido Liberal de Carney e o Partido Conservador de Poilievre são os principais concorrentes, embora outras forças políticas, como o Novo Partido Democrático (NPD), o Bloc Québécois e o Partido Verde, também estejam a disputar assentos no Parlamento.
Quem são os principais candidatos?
Mark Carney, embora sem experiência política prática, é amplamente respeitado pelo seu currículo financeiro e pela sua postura firme frente a Donald Trump. Como ex-governador do Banco do Reino Unido e do Banco do Canadá, Carney tem um histórico de liderança em momentos de instabilidade económica, como a crise financeira global de 2008 e o Brexit. Durante a sua campanha, tem promovido uma política de resistência às tarifas económicas impostas por Trump e defendido a soberania canadiana. No entanto, Carney enfrenta críticas pela sua falta de experiência política e pelo fraco domínio da língua francesa, um fator importante nas províncias de língua francesa, como o Quebec.
Pierre Poilievre, líder do Partido Conservador, é um político experiente, com quase duas décadas de carreira. Conhecido pelo seu estilo confrontacional e populista, Poilievre tem cativado muitos eleitores com um discurso contra as elites e uma postura firme contra o aumento dos impostos. Durante a campanha, tem também atacado as políticas de Justin Trudeau, que considera responsáveis pelo aumento do custo de vida e pela crise da habitação. Embora Poilievre tenha sido comparado a Donald Trump devido ao seu estilo populista, ele tem procurado distanciar-se das propostas mais radicais do ex-presidente dos EUA, criticando as ameaças de Trump de tornar o Canadá um estado norte-americano.
Outras forças políticas na corrida
Embora os principais partidos na corrida sejam os Liberais e os Conservadores, o Novo Partido Democrático (NPD), o Bloc Québécois e o Partido Verde também estão a disputar assentos no Parlamento. O NPD, liderado por Jagmeet Singh, é um partido de esquerda focado em questões sociais e laborais. Após o rompimento com os Liberais no final de 2024, o NPD enfrenta dificuldades para recuperar apoio, embora ainda tenha uma base significativa, especialmente entre os eleitores de classe trabalhadora.
O Bloc Québécois, um partido soberanista que defende a independência do Quebec, é um dos principais intervenientes na política canadiana, particularmente nas províncias francófonas. Com 33 assentos na Câmara dos Comuns, o Bloc pode ser decisivo para a formação do governo, embora não tenha aspirações de se tornar o partido no poder.
O Partido Verde, com uma representação reduzida, continua a ser uma opção relevante para os eleitores preocupados com questões ambientais e climáticas, embora a sua influência seja limitada.
O que dizem as sondagens?
As sondagens mais recentes indicam um cenário competitivo entre os Liberais e os Conservadores. Depois da demissão de Justin Trudeau, o Partido Conservador estava a liderar as intenções de voto, mas com a ascensão de Carney, os Liberais recuperaram terreno. Atualmente, os Liberais têm aproximadamente 40% das intenções de voto, enquanto os Conservadores estão ligeiramente atrás, com cerca de 39%. Esta é a primeira vez em três anos que os Liberais lideram as sondagens.
As questões económicas, como o aumento do custo de vida, a crise da habitação e as ameaças de Donald Trump, têm sido as principais preocupações dos eleitores canadianos, e a forma como os líderes respondem a estes desafios será crucial para o resultado das eleições.
O futuro político do Canadá
As eleições de hoje, 28 de abril, são um momento decisivo para o Canadá. O próximo primeiro-ministro terá pela frente uma série de desafios, incluindo a resposta às ameaças económicas externas e a gestão de uma crise interna relacionada com o custo de vida e a habitação. Mark Carney e Pierre Poilievre são os principais candidatos, mas o papel das outras forças políticas, como o NPD e o Bloc Québécois, poderá ser determinante na formação do governo.
O clima de incerteza que marca as eleições pode mudar rapidamente, dependendo dos resultados. Se Carney ou Poilievre conseguir uma maioria clara, terão o mandato para liderar o país nas difíceis águas políticas e económicas que se avizinham. Caso contrário, será necessário formar alianças para garantir a governabilidade do país, o que poderá levar a um período de negociações e compromissos políticos.
Hoje, os canadianos irão decidir não apenas o seu próximo líder, mas também o futuro político e económico do país.