Bruxelas falhas no combate ao crime grave, mas é implacável nas multas de trânsito: Agente ‘Terminator’ passou mais de 5 mil no último ano
A capital belga, Bruxelas, é uma cidade marcada por contrastes quando se trata de lidar com problemas de segurança e de infrações menores. Por um lado, há uma ineficácia notória na resposta a grandes desafios de segurança, como o terrorismo e a violência urbana; por outro, o rigor com que são aplicadas multas e penalizações por infrações triviais é quase desmedido. Este contraste revela uma cidade que, enquanto falha em prevenir ou enfrentar crimes graves, reveste-se de uma eficácia burocrática no que toca ao cumprimento de normas básicas, como o código da estrada.
O exemplo mais recente desta dissonância aconteceu em outubro de 2023, quando um terrorista, depois de matar duas pessoas, circulou de moto por Bruxelas sem ser detido até ao dia seguinte, quando foi abatido num café. Este incidente não foi isolado. Já em 2015, após os atentados em Paris, Salah Abdeslam, um dos terroristas, voltou tranquilamente ao seu bairro, em Molenbeek, onde se escondeu sem ser detetado. A capital belga viveu outro momento de falha grave em 2022, quando um homem que deveria ter sido deportado para a Tunísia – a pedido das autoridades tunisinas – permaneceu no país devido a um erro administrativo. O mesmo homem acabaria por matar dois polícias.
A fragilidade na resposta a crimes violentos é visível em vários episódios, como a morte de um polícia apunhalado em 2022 por um homem que, pouco antes, tinha pedido à polícia que o levasse a um hospital por sentir o desejo de atacar agentes. Inexplicavelmente, foi libertado sem qualquer medida preventiva, levando ao trágico desfecho.
Além disso, Bruxelas enfrenta atualmente um problema crescente de violência entre gangues, especialmente em bairros como Anderlecht, onde, em apenas duas semanas, ocorreram cinco tiroteios. No entanto, apesar dessa realidade de violência, o que mais marca a cidade é a sua eficiência extrema em punir as infrações menores.
Enquanto Bruxelas falha na gestão de grandes crises, um exemplo de eficiência implacável surge no controlo do trânsito. Patrick M., um polícia na zona oeste da cidade, é o rosto dessa rigidez. Conhecido como “Terminator” entre os belgas, Patrick M. aplicou 5.000 multas de trânsito apenas no último ano, relata o El Confidencial. “Tenho tolerância quase zero”, afirmou orgulhosamente aos meios de comunicação locais.
A sua rotina diária começa cedo, entre as 6:30 e as 9:00 da manhã, quando se posiciona na Praça Doutor Schweitzer, uma área caótica onde transeuntes, ciclistas, carros e transportes públicos tentam coexistir num espaço limitado e com sinalização escassa. Este caos é o cenário perfeito para infrações, e Patrick M. não hesita em atuar. A sua presença no local tornou-se tão constante que é quase inevitável para quem passa por ali evitar uma multa.
Este zelo no cumprimento das normas contrasta com a complexidade das rotundas caóticas que são um símbolo de Bruxelas. Um exemplo é a rotunda de Meiser, descrita por muitos como um “círculo do inferno” digno de Dante, onde convergem seis faixas de rodagem, linhas de elétrico, ciclovias e semáforos, tudo isso cortado por uma das principais avenidas da cidade. Para muitos condutores, estas rotundas são um teste à paciência e à habilidade, onde a ordem é uma exceção e não a regra.