
É oficial: BCE volta a cortar juros. Taxa cai para 2%
O Banco Central Europeu (BCE) voltou esta quinta-feira a cortar as taxas de juro em 25 pontos base, num contexto marcado pelas tensões comerciais e por previsões de crescimento económico débil na zona euro – esta é a oitava descida desde que o BCE iniciou este ciclo de redução das taxas, em junho de 2024.
O regulador europeu liderado por Christine Lagarde não surpreendeu e avançou com um novo corte de 25 pontos base nas suas três taxas de juro diretoras, deixando-as nos valores mais baixos desde dezembro de 2022: taxa aplicada à facilidade permanente de depósitos diminui para 2,00%; taxa de juro das principais operações de refinanciamento desceu para 2,15%; e a taxa aplicável à facilidade permanente de cedência de liquidez cai para 2,4%.
Num comunicado divulgado depois da reunião de política monetária, o Conselho do BCE reafirmou-se “determinado a assegurar que a inflação estabiliza, de forma sustentada, no seu objetivo de médio prazo de 2%” e “não se compromete previamente com uma trajetória de taxas específica”. “Especialmente nas atuais condições de excecional incerteza, seguirá uma abordagem dependente dos dados e reunião a reunião para decidir a orientação apropriada da política monetária”, enfatiza.
Assim, as decisões futuras sobre as taxas de juro basear-se-ão na “avaliação das perspetivas de inflação, à luz dos dados económicos e financeiros que forem sendo disponibilizados, da dinâmica da inflação subjacente e da força da transmissão da política monetária”.
Contactado pela ‘Executive Digest’, Nuno Rico, especialista da DECO-PROteste, referiu ser uma decisão aguardada.
“Como esperado, o BCE voltou a descer as suas taxas diretoras, fixando o valor de referência nos 2%. Ao contrário da expectativa existente, até há poucos meses, o movimento de descida continua, devido ao contexto internacional de forte incerteza e da inflação em valores próximos do objetivo”, indicou.
“O Banco Central Europeu demonstra que, de momento, prefere apoiar as economias europeias em detrimento de eventuais impactos na subida dos preços. Contudo, sinalizou que a continuação das descidas, nos próximos meses, dependerá da evolução do volátil contexto internacional, nomeadamente a questão das tarifas dos EUA e o desenrolar dos conflitos militares em curso. Contudo, na prática, esta decisão representa boas notícias para as famílias com crédito à habitação, consolidando as reduções nas prestações que se têm vindo a verificar nos últimos meses”, concluiu.
Decisão do BCE já era antecipada pelos mercados
A decisão do BCE já era antecipada pelos mercados. “Esperamos que o BCE reduza as taxas de juro em 25 pontos base, o seu oitavo corte neste ciclo, levando a taxa dos depósitos para os 2,0%”, referiu o diretor de Investimento de Mercados Públicos da Allianz Global Investors (Allianz GI), Michael Krautzberger, numa nota de análise, que destacou que “ainda que os receios de uma guerra comercial global tenham diminuído” desde a última reunião do banco central, em abril, “as tensões comerciais mantêm-se”.
Por outro lado, os dados disponíveis para a zona euro “continuam a apontar para uma atividade económica débil e pressões inflacionistas moderadas na região”: “Acreditamos que o BCE manterá a cautela perante os riscos de baixa no crescimento no seu comunicado de política monetária de junho”, sustentou. “Esperamos que os mercados das taxas de juro a curto prazo continuem a precificar uma taxa de juro terminal entre os 1,5% e os 2,0% a curto prazo, dados os riscos de crescimento, embora acreditemos que nos estamos a aproximar do fim do ciclo de flexibilização do BCE”, referiu Krautzberger.
A mesma opinião teve o economista sénior da Generali Investments, Martin Wolburg, que indicou que “os riscos da guerra comercial justificam uma nova flexibilização” por parte do banco central, notando que “a margem para novos cortes nas taxas está a diminuir”. “Nos 2,25%, a taxa de juro já atingiu o limite superior do corredor neutro de 1,75% a 2,25% calculado pela equipa do BCE. Embora em território neutro, a margem para novos cortes nas taxas está a diminuir. No entanto, ainda não vemos o fim do ciclo de cortes”, lê-se na nota.
Na mesma linha, os analistas da Ebury afirmaram que um corte de 25 pontos base “está totalmente precificado pelos mercados”, pelo que não deverá ter impacto sobre a taxa de câmbio do euro. Para o responsável de Estratégia de Mercado e o analista de mercado sénior da Ebury, Mattew Ryan e Roman Ziruk, o foco dos mercados está em “analisar o tom das comunicações” do BCE, particularmente a conferência de imprensa da presidente Lagarde, “em busca de pistas sobre o ritmo e a extensão de uma futura flexibilização da política monetária”.
Contudo, Christine Lagarde “manterá as suas cartas na manga”, com o banco central a aguardar os próximos dados e desenvolvimentos comerciais antes de decidir o próximo passo. “Não há dúvida de que a reunião do Conselho do BCE trará uma oitava redução das taxas de juro no ciclo atual”, vaticinaram. “O futuro para além disso é menos claro, o que poderá deixar o euro exposto à volatilidade”, concluíram.