BCE anuncia nova subida das taxas de juro em 25 pontos base, para novo valor recorde
Num clima de enorme expetativa, o Banco Central Europeu (BCE) anunciou hoje uma subida das taxas de juro, perante a inflação que voltou a subir no mês de agosto. A subida é de 25 pontos base, elevando as taxa um novo valor recorde, o mais alto da história da zona euro.
O BCE informou esta quinta-feira que a taxa de facilidade de depósito subiu para 4%, a taxa de juro das principais operações de refinanciamento aumentou para 4,50%, e a taxa de juro aplicável à facilidade permanente de cedência de liquidez subiu para 4,75%.
O BCE já aumentou os juros num total de 450 pontos-base (p.b.) desde julho de 2022, e tinha duas opções: pausar ou continuar a limitar as condições monetárias.
Com esta nova subida das taxas de juro, concretiza-se a 10.ª escalada por parte do regulador europeu desde julho de 2022, depois de terem aumentado em 25 pontos-base na reunião do passado mês de junho.
“O aumento das taxas de juro hoje decidido reflete a avaliação do Conselho do BCE das perspetivas de inflação, à luz dos dados económicos e financeiros disponíveis, da dinâmica da inflação subjacente e da força da transmissão da política monetária”, justifica o banco central.
Anteriormente os investidores ainda conseguiam obter insights sobre a política monetária futura através da análise da orientação futura do banco, no entanto, as perspetivas incertas estão a fazer com que as decisões sejam tomadas “reunião a reunião”.
O que esperar no futuro?
Esperava-se hoje a possibilidade de uma paragem na escalada por parte do BCE, no entanto especialistas ouvidos pela Executive Digest alertavam para a alta inflação, que ainda está longe dos objetivos dos reguladores.
A inflação atingiu os 5,3% pelo segundo mês consecutivo em agosto, o que representa metade do nível recorde registado em outubro, mas ainda assim representa mais do dobro do objetivo de inflação do BCE.
Por sua vez, a inflação subjacente está a revelar-se ainda mais teimosa. Com 5,3%, está muito próximo do seu máximo histórico (5,7%) e ainda não mostrou uma tendência descendente convincente.
“Pelo bom senso e prudência os juros deviam continuar a subir até que exista efetivamente uma redução da inflação para valores sustentáveis, não é com 5.3% de inflação que se pode começar sequer a pensar em fazer uma pausa, quanto mais descida dos juros”, considera Mário Martins.
O analista da ActivTrades explica ainda que só uma recessão trará a inflação para valores admissíveis num prazo de tempo aceitável. Não podemos andar 3 a 5 anos para descer o patamar da inflação porque isso é francamente maligno para a sustentabilidade de qualquer economia”, sublinhou.
“Do outro lado estão alguns governos, como o português, que têm interesse (não assumido) em manter a inflação elevada, uma vez que diminui o rácio da dívida versus PIB e aumenta o montante dos impostos recolhidos”, remata.
O que apontavam os especialistas?
Para Franck Dixmier, Diretor Global de Investimentos em Obrigações, Allianz Global Investors (AllianzGI), este era “o momento certo para continuar a limitar as condições monetárias, e espera-se que a Presidente do BCE, Christine Lagarde, anuncie um aumento de 25 p.b. na reunião de setembro”.
O especialista considera que a desaceleração do crescimento na Zona Euro ainda não é suficientemente preocupante para justificar uma pausa, enquanto os níveis de inflação ainda estão longe da meta do BCE.
Em declarações à Executive Digest, a Ebury partilhava da mesma opinião e considerava que “a decisão do BCE é sem dúvida uma das mais difíceis de tomar neste ciclo. O enfraquecimento da atividade económica contrasta fortemente com uma inflação ainda desconfortavelmente elevada. Ultimamente, os falcões têm feito barulho, aumentando o suspense. Como resultado, estamos agora provisoriamente inclinados para uma subida, atribuindo uma probabilidade de 60% a favor de um aumento”.
Já Mário Martins, analista da ActivTrades, por outro lado, acreditava que seria “expectável uma pausa na subida dos juros”.
No entanto, acrescenta, que mesmo não subindo os juros, poderíamos esperar uma retórica hawkish por parte do organismo liderado por Christine Lagarde, deixando a porta aberta a uma subida para a próxima reunião.