Megaoperação em curso: Autoridades proíbem grupo de extrema-direita ‘Reino da Alemanha’ e detêm líderes
As autoridades alemãs baniram esta terça-feira o grupo de extrema-direita ‘Reino da Alemanha’ (Königreich Deutschland) e detiveram quatro dos seus principais líderes, numa vasta operação policial coordenada em sete estados federais. A decisão foi anunciada pelo Ministério do Interior, que considera o grupo uma ameaça à ordem democrática e constitucional do país.
Segundo as autoridades, o ‘Reino da Alemanha’ é uma ramificação do movimento Reichsbürger — uma ideologia de extrema-direita que rejeita a legitimidade da atual República Federal da Alemanha, considerando que o Estado alemão deixou de ser legal após a derrota na Primeira Guerra Mundial. Os seus apoiantes afirmam ser cidadãos de um império ainda em vigor, apesar da sua abolição oficial em 1918.
O Ministério do Interior justificou a proibição afirmando que “os objetivos e atividades desta associação violam a ordem constitucional, a legislação penal e os princípios da compreensão entre os povos”. A medida estende-se também a “múltiplas organizações afiliadas” ao grupo.
A operação policial resultou na detenção de quatro elementos identificados como Mathias B., Peter F., Benjamin M. e Martin S. (os apelidos não foram divulgados, em conformidade com as leis de privacidade alemãs). De acordo com os procuradores, os detidos são suspeitos de liderar o movimento e de ter criado “estruturas e instituições pseudoestatais”, como um banco, um sistema de seguros, uma autoridade emissora de documentos fictícios e até uma moeda própria.
Peter F., um dos detidos, é descrito como o “soberano supremo” do grupo, com poderes decisórios sobre todas as áreas-chave da organização.
O ministro do Interior alemão, Alexander Dobrindt, declarou que o grupo não representa “um conjunto de nostálgicos inofensivos”, mas sim “estruturas criminosas e uma rede criminosa organizada”, acrescentando que a sua atividade económica clandestina já estava sob vigilância das autoridades há vários anos. No entanto, Dobrindt confirmou que, até ao momento, “não foram encontradas armas” nas buscas realizadas.
Esta ação surge num contexto de crescente preocupação com o radicalismo de direita na Alemanha. Desde 2016, o Bundesamt für Verfassungsschutz (serviço de informações internas) colocou o movimento Reichsbürger sob vigilância, após um dos seus membros matar a tiro um polícia durante uma rusga. O alarme intensificou-se em dezembro de 2022, quando as autoridades impediram planos avançados de um golpe armado promovido por elementos ligados a esta ideologia conspirativa.
O movimento Reino da Alemanha existe há cerca de uma década e afirma contar com cerca de 6.000 apoiantes. O seu objetivo declarado é a criação de um “contra-Estado” independente, com jurisdição e forças de segurança próprias.
A operação desta terça-feira representa mais um passo firme das autoridades alemãs no combate à ameaça da extrema-direita organizada, cuja atividade tem vindo a aumentar e a desafiar abertamente os pilares do Estado de direito democrático na Alemanha.