Ativista que atirou tinta a Montenegro arrisca ter de pagar 1750 euros por estragar fato de marca de luxo

O estudante e ativista climático Vicente Fernandes enfrenta a possibilidade de ter de indemnizar o primeiro-ministro, Luís Montenegro, no valor de 1750 euros, após atirar tinta verde ao político durante um ato de campanha eleitoral. O incidente, ocorrido a 28 de fevereiro, resultou na danificação do fato Hugo Boss usado por Montenegro, e está agora a ser julgado no Campus da Justiça, em Lisboa, onde Vicente responde pelo ato. A segunda audiência do julgamento tem lugar esta quarta-feira, para ouvir as testemunhas de defesa.

A situação surge num contexto em que ativistas climáticos, ligados ao movimento Greve Climática Estudantil (GCE), exigem um plano nacional para a eliminação de combustíveis fósseis até 2030. A GCE emitiu um comunicado em apoio ao estudante e convocou uma vigília à porta do tribunal, expressando solidariedade para com Vicente e reafirmando a sua posição contra o uso de combustíveis fósseis.

O caso levou a uma audiência inicial a 9 de outubro, na qual Luís Montenegro apresentou o pedido de indemnização de 1750 euros, justificado pela danificação do seu fato. Contudo, Montenegro não é o único a requerer compensações: Isabel Santiago, fotógrafa do então candidato, também reclama uma indemnização de mais de 450 euros, devido a danos causados ao seu equipamento durante a ação. Além disso, um agente da polícia, que interveio na altura, apresentou um pedido adicional de indemnização, referindo que as manchas de tinta na sua roupa não foram removidas apesar das lavagens.

Vicente Fernandes, que gritou “Montenegro defende a indústria fóssil” antes de lançar a tinta verde, foi imediatamente detido pelas forças policiais. No tribunal, o jovem argumentou que a tinta utilizada era à base de água, “lavável e ecológica”, afirmando ainda ter conseguido remover facilmente as manchas do seu próprio vestuário, que usava na altura e que continuou a usar após o incidente.

Em defesa do protesto, Vicente explicou que a sua intenção era alertar para o impacto do uso continuado de combustíveis fósseis, especialmente face a fenómenos climáticos extremos, como as cheias recentes em Valência, que descreveu como “uma destruição de dimensão nunca antes vista”. Num comunicado divulgado pelo GCE, Vicente enfatizou: “A menos que cortemos drasticamente as emissões de gases de efeito estufa, as próximas vítimas poderemos ser nós ou alguém que amamos, e desastres como este só irão piorar enquanto os governos nada fizerem para pôr um fim aos combustíveis fósseis.”

O caso ocorre num momento em que o movimento estudantil tem intensificado a sua campanha em prol do fim ao fóssil até 2030. Segundo Matilde Ventura, porta-voz da GCE e testemunha no julgamento, a organização tem vindo a recolher assinaturas em escolas de todo o país para uma “Carta de Estudantes pelo Fim ao Fóssil”. Ventura afirma: “Exigimos que o nosso governo apresente um plano para acabar com a queima e uso de combustíveis fósseis no nosso país até 2030, através de uma transição justa.”

Os estudantes envolvidos na GCE estão determinados a pressionar o governo. Segundo afirmam, caso o executivo não atenda às suas exigências, estão a planear iniciar uma paralisação das escolas a partir de abril de 2024, como forma de protesto contínuo.