
Ataque terrorista a sala de espetáculos na Rússia há um ano ainda assombra sobreviventes
Comemora-se hoje o primeiro aniversário do atentado terrorista em sala de espetáculos moscovita: o ataque perpetrado pelo Estado Islâmico (EI) à Crocus City Hall, uma sala de espetáculos situada em Krasnogorsk, nos arredores da capital russa, fez pelo menos 145 mortos e mais de 150 feridos.
Kirill Yavkin ainda sente “arrepios na espinha” quando pensa em quando homens armados mataram 145 pessoas na Câmara Municipal de Crocus, no ataque mais mortífero na Rússia em 20 anos. As imagens do ataque de 22 de março à sala de concertos perto de Moscovo circularam pelo mundo, mostrando quatro homens a abrir fogo calmamente sobre a multidão e a acabar com os feridos.
Yavkin, de 23 anos, teve uma reunião de trabalho com colegas músicos no Crocus Hall, pouco antes de um concerto do grupo de rock russo ‘Piknik’. De repente, “um barulho como o de fogo de artifício” ecoou nas tendas, contou à ‘AFP’. “Vimos pessoas a correr em pânico em direção ao palco e a esconderem-se nos bastidores”, disse. “Alguns caíram entre as fileiras. Fiquei quase paralisado por isso.”
O ataque, reivindicado pelo ISIS, durou cerca de 20 minutos e os atacantes atearam fogo ao salão antes de fugirem do local.
Com o seu chefe, Yavkin tirou cerca de outros 20 convidados VIP que estavam presos nas suas cabinas, enquanto o fumo já subia. Perdidos e desorientados, não sabiam para onde ir. Foi então que aconteceu algo a que chama “milagre” — apareceu uma jovem que os ajudou. “Nostrou-nos como sair, passando pelas salas técnicas antes de desaparecer no fumo”, lembrou. “Ela salvou-nos.”
O seu chefe, Alexei Kozin, um produtor musical de 47 anos, disse que “tenta não pensar nisso para evitar os flashbacks” que o perseguem. “Ainda não contei à minha mãe que lá tinha estado”, acrescentou. Kozin ainda vai a concertos para trabalhar, mas, uma vez lá, “fico de olho nos serviços de segurança e verifico onde estão as saídas de emergência”.
Embora o ISIS tenha assumido a responsabilidade pelo ataque, as autoridades russas continuaram a atribuir culpas à Ucrânia, onde Moscovo lançou uma ofensiva há três anos. Kiev negou sempre qualquer envolvimento. Em maio último, a Rússia disse pela primeira vez que o EI tinha coordenado o ataque, mas não retirou as acusações contra Kiev por estar por trás dele.
Mais de 20 pessoas foram detidas desde então, incluindo os quatro alegados atiradores, todos do Tajiquistão e detidos perto da fronteira com a Ucrânia.
O ataque contou ainda com heróis como Islam Khalilov, de 16 anos, e Artem Donskov, de 15, dois colegas de escola que estavam a trabalhar nessa noite no balneário da Câmara Municipal de Crocus. Conseguiram salvar mais de 100 pessoas ajudando-as a fugir do edifício em chamas. “Vi uma multidão enorme a descer as escadas em frente ao meu balneário”, apontou Donskov. “As pessoas estavam aterrorizadas, mas na altura eu não percebia nada e não tinha medo.” O estudante do ensino secundário conseguiu reunir a multidão de adultos em pânico numa única fila e conduziu-os por corredores técnicos que conhecia de cor até uma saída de emergência.
Os testemunhos de vários sobreviventes indicam que os dois adolescentes e os acompanhantes foram as únicas pessoas a prestar assistência durante o ataque, ainda que a polícia afirme ter chegado “5 minutos” depois de ter sido alertada. Segundo Alexei Filatov, especialista em operações antiterroristas, “a principal razão para o elevado número de mortos é que o corpo de bombeiros foi atrasado pelo trânsito naquela sexta-feira à noite”.