Assinalam-se hoje os 80 anos da rendição da Alemanha nazi e do fim da Segunda Guerra Mundial na Europa
Esta quinta-feira assinala-se o 80.º aniversário do fim da Segunda Guerra Mundial na Europa, com a capitulação incondicional da Alemanha nazi, assinada em 8 de maio de 1945, a marcar o cessar definitivo das hostilidades no continente. A assinatura do armistício, que teve lugar em Reims e foi ratificada em Berlim no dia seguinte, pôs termo a quase seis anos de guerra devastadora, que causou mais de 70 milhões de mortos em todo o mundo, dos quais dezenas de milhões na Europa.
O conflito começou em setembro de 1939 com a invasão da Polónia pela Alemanha de Adolf Hitler, rapidamente alastrando-se a todo o continente e, posteriormente, ao resto do globo. Ao longo de seis anos, a guerra destruiu cidades, provocou o colapso de regimes e culminou no Holocausto, em que cerca de seis milhões de judeus foram sistematicamente exterminados pelos nazis. A vitória dos Aliados sobre o regime nazi não apenas significou o fim das operações militares na Europa, mas também o início de um processo de reconstrução, reconciliação e cooperação que viria a dar origem à União Europeia.
O Dia da Vitória na Europa — assinalado anualmente a 8 de maio — é, desde então, um momento de memória e de reafirmação dos valores que emergiram da tragédia: paz, liberdade, democracia e solidariedade entre os povos.
Parlamento Europeu evocou a data na véspera com homenagem a veteranos e apelo à unidade
Na véspera do aniversário, esta quarta-feira, o Parlamento Europeu assinalou a efeméride com uma cerimónia solene em Estrasburgo. A sessão plenária contou com a presença de três veteranos da Segunda Guerra Mundial — Robert Chot (Bélgica), Janusz Komorowski e Janusz Maksymowicz (Polónia) —, que foram calorosamente aplaudidos de pé pelos eurodeputados.
A presidente do Parlamento Europeu, Roberta Metsola, destacou o significado profundo da data: “Oitenta anos depois de as armas se terem silenciado na Europa, homenageamos a coragem dos que combateram e o sacrifício dos que caíram. Recordamos não apenas o fim de uma guerra, mas o nascimento da nossa União”. Para Metsola, a verdadeira homenagem aos que deram a vida reside na “nossa determinação em permanecermos unidos e dizermos, de forma clara e firme: nunca mais”.
Também o presidente do Conselho Europeu, António Costa, deixou uma mensagem de reconhecimento e alerta. Dirigindo-se aos veteranos presentes, agradeceu o seu “sacrifício e compromisso com a paz”, mas lamentou que, atualmente, “não possamos celebrar a paz em paz”, referindo-se à guerra na Ucrânia. Costa defendeu que a melhor forma de honrar os que lutaram há 80 anos é manter a unidade europeia diante da agressão russa. “A paz é um património, mas também uma responsabilidade”, sublinhou.
Testemunhos vivos de uma guerra que não pode ser esquecida
Os três veteranos convidados partilharam testemunhos emocionantes das suas experiências.
Robert Chot, de 102 anos, combatente belga na Batalha das Ardenas, lembrou os horrores da guerra: “Há 80 anos, as armas calaram-se, pondo fim a uma batalha terrível que causou milhões de mortos na Europa e noutros lugares”. Agradeceu aos eurodeputados pelo papel que desempenham na manutenção da paz, e deixou um aviso: “A paz é sempre incerta. Há sempre nuvens a pairar sobre nós. Façamos o necessário para garantir que a paz perdure na Europa”.
Janusz Komorowski, de 96 anos, veterano da libertação da Polónia e combatente durante a insurreição de Varsóvia, falou do sofrimento do povo polaco e da sua luta pela liberdade: “Deram a vida também pela liberdade de outras nações, com a esperança de que a força brutal dos destruidores da paz fosse vencida para sempre”. Encerrou agradecendo à geração de guerra e ao Parlamento Europeu “por se ter tornado um farol de paz, liberdade e democracia”.
Janusz Maksymowicz, de 95 anos, participante na revolta do Gueto de Varsóvia, recordou como as ideologias de ódio continuam a ameaçar a paz. “Sabemos quão implacáveis podem ser as ideologias que dividem povos e nações. Por isso, hoje afirmamos com convicção: a comunidade é força. Uma comunidade de nações que respeita as tradições e culturas europeias de todos os que querem viver em paz.”
Antes da sessão plenária, Roberta Metsola e António Costa participaram numa cerimónia simbólica no exterior do edifício do Parlamento, com o hastear da bandeira da União Europeia e a deposição de uma coroa de flores em honra dos mortos da guerra.
A sessão foi encerrada com a interpretação do hino europeu, numa versão para soprano e conjunto de cordas, encerrando uma cerimónia que pretendeu não apenas recordar a história, mas reafirmar o compromisso europeu com a paz e a liberdade.