As 10 crises de refugiados mais negligenciadas estão em África. ONG diz que “mundo escolheu ignorar” essa parte do mundo e focar-se na Ucrânia
O Conselho Norueguês dos Refugiados (NRC) publicou, esta quarta-feira, a sua lista anual das crises de deslocações forçadas mais negligenciadas pelo mundo. Pela primeira vez, todos os lugares são ocupados por países do continente africano.
“O facto de as crises mais negligenciadas no mundo serem todas em África revela o falhanço crónico dos decisores, doadores e imprensa em prestarem a devida atenção ao conflito e ao sofrimento humano neste continente”, lamenta Jan Egeland, Secretária-Geral do NRC.
A responsável acrescenta que, com todas as atenções e esforços concentrados na guerra na Ucrânia, “temo que o sofrimento africano seja ainda mais empurrado para as sombras”.
A República Democrática do Congo (RDC) está no topo da lista deste ano das crises de refugiados mais negligenciadas a nível mundial. A região nordeste do país encontra-se imersa em conflitos étnicos e desde novembro de 2015 que se tem observado o aumento exponencial dos ataques a campos de deslocados internos, que são já 5,5 milhões. A somar a tudo isso, o país enfrenta a maior crise de insegurança alimentar de sempre, com um terço da população a passar fome.
Aponta a organização humanitária que a ajuda prestada à RDC em 2021 representou, na prática, que cada pessoa em necessidade no país recebeu menos de um dólar por semana. Menos de metade dos apelos de ajuda ao país foram financiados, colocando sobre os ombros dos trabalhadores humanitários a decisão de priorizar ajudar uns ao invés de outros.
Em 2021, cerca de 19,6 milhões de pessoas na RDC precisavam de assistência humanitária.
Em sentido contrário, o NRC destaca que o apelo lançado a um de março pela Ucrânia estava praticamente financiado no final desse mesmo dia. A organização destaca que, por exemplo, as centenas de milhares de pessoas que fugiram das suas casas no Burkina Faso em 2021, devido a conflitos e insegurança alimentar, receberam, em todo esse ano, menos cobertura mediática do que a que o conflito no Leste europeu conseguiu atrair diariamente entre março e maio.
“A guerra na Ucrânia demonstrou a imensa diferença que existe entre o que é possível quando a comunidade internacional se mobiliza em torno de uma crise, e a realidade diária de milhões de pessoas que sofrem em silêncio no seio destas crises no continente africano que o mundo escolheu ignorar”, assevera Egeland.
Além da República Democrática do Congo no primeiro lugar, a lista conta com os seguintes países, por ordem decrescente:
- Burkina Faso
- Camarões
- Sudão do Sul
- Chade
- Mali
- Sudão
- Nigéria
- Burundi
- Etiópia