Arranca hoje a “fase 1” do projeto-piloto do “Euro Digital”. “É um reforço da soberania da UE”, defende Centeno

Arranca hoje a “fase 1” do projeto piloto do “euro digital”, onde os especialistas da zona euro vão estudar esta possibilidade.

Em julho, o Banco Central Europeu (BCE) anunciou o lançamento de um projeto-piloto de dois anos para introdução, mais tarde, do euro digital, concebido como uma resposta à crescente desmaterialização dos pagamentos e à proliferação de criptomoedas.

A instituição vai lançar “a fase de investigação” do projeto do euro digital que tem como objetivo disponibilizar “a forma de moeda mais segura”, a “moeda do banco central”, refere um comunicado divulgado após a reunião do Conselho de Governadores, em Frankfurt.

A decisão definitiva sobre o lançamento do euro digital surgirá após esta fase exploratória, acrescenta o comunicado.

“Passaram nove meses desde que publicámos o nosso relatório sobre o euro digital. Neste tempo, procedemos a análises mais aprofundadas, pedimos contributos de cidadãos e profissionais e realizámos experiências com resultados encorajadores “, afirmou a presidente do BCE, Christine Lagarde.

“Tudo isto levou-nos a decidir acelerar e iniciar o projeto de um euro digital”, acrescentou.

Fabio Panetta, membro da Comissão Executiva do BCE que preside aos trabalhos sobre o euro digital, disse que o banco central se compromete a informar regularmente o Parlamento Europeu sobre o processo e a manter contactos com cidadãos, comerciantes e indústria de pagamentos.

A fase de investigação vai durar 24 meses e centrar-se em aspetos relacionados com a conceção e distribuição para que o euro digital cumpra as necessidades dos europeus, sirva para impedir atividades ilícitas e evitar um “impacto indesejado na estabilidade financeira e na política monetária”, segundo o BCE.

Depois, o BCE terá de decidir se inicia a fase operacional do projeto, trabalhando então com fornecedores de tecnologia e bancos.

“O nosso objetivo é estarmos preparados no fim desses dois anos para começar a desenvolver um euro digital, o que pode levar cerca de três anos”, disse Fabio Panetta. Isso pode levar a um lançamento efetivo por volta de 2025/26.

A iniciativa do BCE surge numa altura em que outros grandes bancos centrais, na China e nos Estados Unidos, trabalham no sentido de lançarem as suas criptomoedas.

Ontem, durante a “CIRSF Conference 2021”, subordinada ao tema “The Financial System and the European economic recovery”, Mário Centeno, Governador do Banco de Portugal (BdP) e membro do conselho do BCE, explicou que “ao emitir um euro digital, o Eurosistema poderia fornecer um meio de pagamento digital sem risco, sem custos e de confiança”.

Esta iniciativa “apoiaria o impulso da Europa no sentido da continuação da inovação e contribuiria para a sua autonomia estratégica, proporcionando uma nova alternativa aos prestadores de pagamentos externos para pagamentos rápidos e eficientes na Europa e não só. O euro digital poderia conduzir ao reforço da soberania europeia num domínio estratégico como os pagamentos, onde o bom funcionamento é crucial para a condução da política monetária e para a manutenção da estabilidade financeira”, defendeu o Governador.

No que toca ao dossier, além do euro digital, o BCE tem em cima da mesa a proposta do Regulamento dos Mercados de Criptoativos ( MiCA) que visa estabelecer os requisitos para a emissão de ativos digitais e para a prestação de serviços de cripto no mercado único.

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