
Arma financeira mais temida pela Rússia discutida pelos líderes mundiais: ‘opção nuclear’ é hipótese
O confronto da Rússia com o Ocidente continua a escalar mas, por entre os gabinetes da alta finança mundial, em particular em Bruxelas, há conversações sobre ‘a opção nuclear’ em caso de uma invasão russa da Ucrânia: enquanto os Governos ocidentais ameaçam a Rússia com um pacote de sanções sem precedentes para dissuadir o presidente Vladimir Putin de ordenar uma invasão, a ‘opção nuclear’ parece ser a medida em particular que mais medo causa no coração do Kremlin: cortar a Rússia do sistema bancário global.
Diversos responsáveis políticos dos Estados Unidos sugeriram, nas últimas semanas, que a Rússia poderia ser removida da SWIFT, uma rede de alta segurança que garante a conexão de instituições financeiras de todo o mundo. A Society for Worldwide Interbank Financial Telecommunication (SWIFT) foi fundada em 1973 para substituir o telex e agora é usada por mais de 11 mil instituições financeiras para enviar mensagens seguras e ordens de pagamento. Sem uma alternativa aceite globalmente, é um instrumento essencial para as finanças globais. A SWIFT, que se descreve como uma “utilidade neutra”, está incorporada sob a lei belga e deve cumprir os regulamentos da União Europeia, estando sediada na Bélgica e é liderada por um conselho composto por 25 pessoas.
O que poderia significar? A saída da Rússia da SWIFT tornaria quase impossível para as instituições financeiras enviar dinheiro para dentro ou fora do país, o que causaria um choque repentino para as empresas russas e os seus clientes estrangeiros – principalmente os importadores de petróleo e gás. “Se a Rússia for desconectada da SWIFT, não vamos receber moeda [estrangeira], mas os nossos compradores, principalmente os países europeus, não vão receber os nossos produtos – petróleo, gás, metais e outros componentes importantes”, referiu Nikolai Zhuravlev, vice-presidente da câmara alta do Parlamento da Rússia.
“O corte iria encerrar todas as transações internacionais, desencadear a volatilidade da moeda e causaria saídas maciças de capital”, escreveu Maria Shagina, pesquisadora visitante do Instituto Finlandês de Assuntos Internacionais. Excluir a Rússia da SWIFT faria com que a sua economia encolhesse 5%, estimou o antigo ministro das Finanças russo, Alexei Kudrin. em 2014.
Há precedentes desta possibilidade? Sim. Em 2012, a SWIFT desconectou os bancos iranianos depois de terem sido sancionados pela União Europeia por causa do programa nuclear – o Irão perdeu metade da sua receita de exportação de petróleo e 30% do seu comércio exterior, segundo revelou Maria Shagina.
Não está claro que apoio existe entre os aliados dos EUA para tomar tal medida – os Estados Unidos e a Alemanha têm mais a perder se a Rússia for desconectada, porque as suas instituições financeiras são os utilizadores da SWIFT mais frequentes com os bancos russos.
O Banco Central Europeu já alertou os credores com exposição significativa à Rússia para se prepararem para sanções contra Moscovo, informou recentemente o ‘Financial Times’, tendo também inquirido os bancos sobre diversos cenários, incluindo uma medida que impedisse os bancos russos de aceder à SWIFT.
“Não há dúvida de que essa seria uma arma muito potente [contra a Rússia]. Receio que só possa realmente ser implantada com a ajuda dos Estados Unidos. Estamos a discutir sobre isso”, referiu Boris Johnson, primeiro-ministro britânico.
A Rússia tem um ‘plano B’; em 2014, estabeleceu o seu próprio sistema de pagamento, o SPFS, depois de ter sido atingida por sanções ocidentais após a anexação da Crimeia. O SPFS tem atualmente cerca de 400 utilizadores, de acordo com o banco central da Rússia – 20% das transferências domésticas são feitas através destes sistema. Pode a Rússia recorrer ao Sistema de Pagamento Interbancário Transfronteiriço da China (CIPS) ou ser forçada a recorrer ao uso de criptomoedas, embora nenhuma sejam alternativas atraentes.