Aquecimento global: “há 98% de hipóteses” de um dos próximos cinco anos ser o mais quente de sempre, alertam cientistas

O ano mais quente alguma vez registado vai acontecer até 2027, de acordo com os especialistas da OMM (Organização Meteorológica Mundial), que enfatizaram com 98% de certeza que haverá um pico de temperatura global nos próximos cinco anos, o que quebra as promessas do Acordo de Paris sobre clima para limitar o aquecimento global a 1,5ºC acima dos níveis pré-industriais.

A Atualização Global Anual para Decadal do Clima do organismo da ONU estimou ainda que já é mais provável que o planeta ultrapasse o limite de 1,5ºC de aquecimento global pela primeira vez nos próximos cinco anos do que não fazê-lo: há uma probabilidade de 66% de a média anual de aquecimento ultrapassar 1,5°C entre 2023 e 2027.

O 1,5ºC é uma marca simbólica: considera-se que a partir deste limiar multiplicam-se os efeitos das alterações climáticas, sob a forma de ondas de calor, subida do nível do mar ou chuvas torrenciais.

“O relatório mostrou que os próximos cinco anos devem trazer novos recordes de temperatura”, apontou Leon Hermanson, cientista do Met Office e um dos responsáveis pelo estudo. “Esses novos máximos serão alimentados quase completamente pelo aumento de gases de efeito estufa na atmosfera mas o desenvolvimento antecipado do evento El Niño que ocorre naturalmente também vai libertar calor do Pacífico tropical.”

El Niño é uma fase de aquecimento recorrente que ocorre no Pacífico tropical após uma fase de resfriamento, chamada La Niña. A fase La Niña do oceano terminou em março deste ano, com previsão de ocorrência do El Niño nos próximos meses.

Ao longo dos cinco anos em análise, segundo cálculos de 11 diferentes centros de ciência do clima em todo o mundo para a ONU, as temperaturas estão previstas entre 1,1°C e 1,8°C acima da média de 1850-1900 – o suficiente para quebrar o Acordo de Paris. Este tratado de mudança climática juridicamente vinculativo entrou em vigor em 2016 e procurou limitar o aumento da temperatura a 1,5°C acima dos níveis pré-industriais. Assinaram um total de 196 países, incluindo os EUA.

De acordo com Carlo Buontempo, diretor do Copernicus Climate Change Service (C3S), esses números são “alarmantes” mas cruciais para entender como podemos lidar melhor com os impactos das mudanças climáticas. “O relatório destacou mudanças alarmantes no nosso clima, incluindo o verão mais quente já registado na Europa, marcado por ondas de calor marinhas sem precedentes no Mar Mediterrâneo e temperaturas recordes na Groenlândia. Entender a dinâmica do clima na Europa é crucial para os nossos esforços de adaptação e mitigação dos impactos negativos das mudanças climáticas no continente.”

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