António Costa reage a insultos da equipa de Trump e defende aliança transatlântica em entrevista a Christiane Amanpour

A recente divulgação de mensagens privadas entre altos membros da administração Trump, onde se referem à Europa como “patética”, suscitou reações entre os líderes europeus. O presidente do Conselho Europeu, António Costa, abordou o tema numa entrevista à jornalista Christiane Amanpour, da CNN, onde reforçou a importância da relação transatlântica e da cooperação estratégica entre a Europa e os Estados Unidos.

O incidente teve origem quando membros do Governo de Donald Trump utilizaram a aplicação de mensagens Signal para discutir planos militares secretos dos Estados Unidos sobre um ataque a rebeldes Houthi no Mar Vermelho. Por lapso, um jornalista foi adicionado ao grupo, resultando na exposição pública das mensagens. Entre os envolvidos estavam o vice-presidente dos EUA, JD Vance, e o secretário de Estado da Defesa, Pete Hegseth, que demonstraram grande desdém pela Europa, sugerindo que os europeus deveriam arcar com os custos das operações militares americanas na região.

Questionado sobre a sua reação, António Costa evitou fazer comentários diretos sobre as mensagens privadas, mas sublinhou a importância da segurança no Mar Vermelho para a economia global. “Foi precisamente por isso que lançámos uma operação marítima em fevereiro para garantir a segurança do comércio”, afirmou.

A jornalista da CNN pressionou o presidente do Conselho Europeu sobre a forma como a equipa de Trump trata os aliados europeus, recordando que a China também depende das rotas comerciais no Mar Vermelho, mas não foi mencionada nas mensagens trocadas entre os membros da administração norte-americana. Costa respondeu afirmando que “os factos são sempre melhores do que as perceções”, destacando que o volume de comércio entre os EUA e a Europa duplicou na última década, beneficiando ambas as partes.

“Temos de melhorar as nossas relações comerciais e evitar uma guerra de tarifas, porque estas são prejudiciais para os consumidores, aumentam a inflação e prejudicam as empresas”, afirmou Costa, em referência às ameaças de Trump de impor tarifas de 200% sobre produtos europeus, incluindo champanhe francês e bebidas alcoólicas.

A questão da autonomia europeia em termos de defesa também esteve em debate. Costa recordou que os países europeus assumiram o compromisso, há dez anos, de aumentar os gastos militares para 2% do PIB até 2024, meta que foi atingida. “Sabemos que temos de fazer mais e estamos preparados para isso. Na próxima cimeira da NATO, em junho, tomaremos decisões para reforçar as nossas capacidades”, explicou.

No entanto, Costa salientou que a Europa não pretende romper a relação transatlântica com os Estados Unidos, mas sim assumi-la de forma mais equilibrada. “Os Estados Unidos querem que os europeus assumam maior responsabilidade, e é isso que estamos a fazer”, acrescentou.

Ceticismo sobre Putin e a paz na Ucrânia

Sobre a postura de Donald Trump face à guerra na Ucrânia, António Costa mostrou-se cético em relação às intenções da Rússia. “Julgaremos Putin não pelas suas palavras, mas pelos seus atos”, afirmou, lembrando que a história demonstra que Moscovo não respeitou os seus compromissos anteriores com Kiev.

Costa reforçou ainda que não é o momento para aliviar a pressão sobre a Rússia e que a Ucrânia precisa de ser fortalecida nas negociações de paz. “Se queremos paz, temos de reforçar a Ucrânia para a paz”, defendeu.

Outro tema abordado na entrevista foi a visita do vice-presidente JD Vance à Gronelândia, que gerou preocupações tanto em Copenhaga como em Bruxelas. O governo dinamarquês considerou a visita “provocatória” e “agressiva”, especialmente à luz das declarações passadas de Trump sobre a possibilidade de os EUA anexarem o território.

Costa foi categórico ao afirmar que “a integridade territorial é um valor universal que temos de proteger” e que a Gronelândia faz parte do Reino da Dinamarca. No entanto, minimizou a situação ao referir que a visita de Vance parece agora ter como objetivo apenas uma base militar dos EUA localizada no território. “A Dinamarca é um aliado muito próximo dos Estados Unidos e tem um acordo claro sobre a defesa da Gronelândia”, concluiu.

A postura diplomática de António Costa ao longo da entrevista levou Amanpour a comentar no final: “Você é muito diplomático”. Uma declaração que reflete a estratégia do presidente do Conselho Europeu de evitar confrontos diretos e procurar manter um equilíbrio entre os interesses europeus e a relação com Washington.